Na parede de um café da cidade, um quadro convoca a atenção do homem que toma vermute em silêncio.
É uma paisagem. Ao fundo, picos nevados de montanha. Abetos escuros chegam ao céu, o céu quase todo povoado de nuvens. Mas uma aberta azul promete outra luz. Um rio pedregoso marca o tempo. Um casal de animais (cervos, talvez) alimenta a cria. Entre os animais e a montanha, uma casa. Não se vê ninguém, nem dentro nem fora de casa. No quadro e no café, a hora é a mesma.
É o fim da manhã, esse momento entre a inocência e a luta, essa hora que antecipa todos os cansaços. O homem olha o quadro, o quadro não olha o homem.
Outra gente entra no café. Dois homens cujas braceletes tilintam no rebordo das chávenas. Uma mulher que folheia corações de revista social. Poucas moscas. Chocolates e cigarros esperam bocas. O homem paga o vermute e sai desta história.
Da casa do quadro, sai uma mulher. Traz um balde na mão. Dirige-se ao rio, enche de tempo o balde, colhe um ramo de salsa. Mirada pelos cervos (são cervos), cheira a salsa. Regressa a casa, fecha a porta.
Não tarda, é noite.
2 comentários:
A mulher fechou-se em casa com um balde cheio de tempo. Grande parva que se esquece que a noite não tarda!
lembro-me tão bem desta seu cão danado...
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