O corpo é tão sensível como a alma. Apesar disso, a moral, que é uma invenção das almas ao serviço do Diabo, tem metido o diabo no corpo. Castiga-lhe a nudez, a nudez que, afinal, é mais natural do que o pronto-a-vestir. Recrimina-lhe o desejo, o desejo, que, disparado na direcção certa, tem servido para que não faltem corpos e almas. Censura-lhe o descanso, quando toda a gente sabe que o trabalho é o pecado-mor de quem não sabe fazer mais nada. E por aí adiante.
Se pararmos um pouco, porém, acabaremos dando razão ao corpo. Na verdade, que seria da filosofia sem as caveiras que a pensam? Que seria das religiões sem esse território de mortificação que é a carne? Que aconteceria às amantíssimas mães na ausência desses bolos de luz que são os corpitos dos bebés?
Em pleno Verão, façamos exultar o corpo. Levemo-lo a dourar na praia. Paguemos-lhe um belíssimo jantar, à luz das velas, se possível em frente, e ao alcance da mãozita, de outro bonito corpo. E, agradecidos por ele ser quem somos, brindemos-lhe à saúde.
O Aveiro, 13 de Julho de 2000
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