25/06/2005

Caça

Uma das coisas que o meu avô, morrendo, deixou de praticar, foi a caça.
Ao contrário do meu avô, muitos caçadores continuam vivos. Vivos e a matar.
Já que estou num transe de almanaque de família, mais digo que um dos meus irmãos, felizmente vivo e de saúde, também abandonou a caça. Porquê? Porque, certo domingo em que andava pelos montes de cartucheira a tiracolo, deparou com uma cena grotesca. De volta de um arbusto, no interior do qual se tinha escondido um coelhito tão pequeno como um cérebro de atirador, sete ou oito caçadores disparavam sem cessar. Todos reivindicavam a posse póstuma do pequeno animal, entretanto reduzido a uma confrangedora pasta de sangue e pêlo. Nesse dia, o meu irmão arrumou a espingarda. Até hoje.

O Aveiro, 12 de Outubro de 2000

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