25/06/2005

Eternidade

O Verão torna a cidade bonita.
Tão bonita como as mulheres dos filmes.
A luz barra o ar como uma manteiga benigna. Dentro de vestidos leves, as senhoras emanam a música mais secreta, que é a do sangue todo tomado pelo calor.
Uma placa indica a melhor direcção que as vidas podem tomar: Praias.
O rapaz das bombas de gasolina leva um lenço de papel ao rosto.
O agente da polícia espreguiça-se de mansinho.
Na pastelaria, as persianas cerradas evocam o recato de um interior de igreja.
A miséria não existe. Nunca existiu. Não há droga nem drogados.
O Demónio para a Antárctica sem bilhete de volta.
Os hospitais fecharam para obras que nem são precisas, pois que as pessoas nunca mais vão adoecer. Vão apenas ser bonitas e felizes nesta eternidade que dura, se durar, dois meses.


O Aveiro, 20 de Julho de 2000

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Canzoada Assaltante