27/06/2005

Realidade

A maior das ilusões criadas pelo Verão é a do desaparecimento da realidade.
Pura ilusão. Os espíritos mais sólidos e racionais sabem que, sob as capas e os brilhos da estação dourada, os problemas subsistem, teimosos e duros. E sempre à espera de, ao nosso mais pequeno descuido, nos saltarem em cima.
Por isso, há quem, sabendo disto, vá usufruindo, com a tranquilidade possível e sem tolas ilusões, do bafo morno das noites, da largueza interminável das tardes e da cabeleira radiosa das manhãs.
Nem toda a gente consegue. Na verdade, as prestações da casa não são mais leves só porque o mês se chama Agosto. Outros, sem prestações, têm porém oitenta anos. Outros, ainda, são jovens, mas a doença e a falta de rumo ajudam pouco. A verdade é que todos temos gostos simples, mas hábitos complicados. No fundo de tudo isto, está o outono da realidade.
No equilíbrio das coisas está a sobrevivência das mesmas. E a nossa também. Faça chuva ou faça sol.


O Aveiro, 10 de Agosto de 2000

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Canzoada Assaltante