Ao contrário do que o título de hoje deixará supor, o meu assunto não é coisa de corpo de gente ou bicho sob rodado de ligeiro ou pesado. É tão grave como isso, mas menos sangrento. Em vez de tíbias e perónios expostos, a história só tem um coração à mostra. O meu. Para azar meu.
É que fui atropelado por uns olhos azuis. Eu tinha ido tomar um café rápido à pastelaria da esquina. Eram sete e vinte da tarde. Precisava de enviar um trabalho no prazo máximo de um quarto de hora. Máximo para quem mo exigia e mínimo para mim, que devia cumpri-lo. O trabalho deveria referir a dependência dos países importadores de petróleo em relação aos produtores/exportadores. Para prestigiar a coisa, eu deveria produzir cifras complicadas tipo 0723, 564 por cento. Uma coisa assim.
Queimei a língua no bordo da chávena, paguei o meio euro menos vinte paus do costume e cheguei à porta. Foi então.
A rapariga tinha um cabelo fulvo docemente poluído de ouro. A boca desenhava um beijo para outro homem. E os olhos, azuis como ameaças de verão perpétuo, atropelavam o mais comum dos mortais. No caso, eu.
De modo que aqui estou: sem petróleo, sem orientação e mortalmente atropelado. Tão mortalmente, que estas são as minhas últimas palavras. Por hoje.
1 comentário:
Como te compreendo...
Sei bem como são esses atropelamentos azuis...
E o mais chato é que têm tendência para deixar cicatrizes perpétuas...
Welcome to the forever blue club...
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