A partir desta semana, podemos todos tirar a máscara. O Carnaval passou. Escusamos de fingir que somos europeus de primeira. Podemos voltar à realidade: somos aqueles senhores das traseiras da Europa que têm e mantêm pontes do século XIX ao serviço da morte dos cidadãos.
O que aconteceu em Castelo de Paiva vai acontecer de novo. Mudam os mortos, sobrevive o cenário. Somos um país de aguarela. As cores são giras, o clima é ameno, etc..
O que lixa o etc. é vir um inverno diferente. Chove mais, o vento sopra mais rijo, os postes abatem-se sobre as árvores, os empreiteiros roubam areia ao leito dos fluxos de água. Resultado: a morte.
Viver em Portugal não é fácil. Morrer, sim. Basta, para tanto, lançarmo-nos à estrada. Aí nos esperam os buracos, o álcool dos outros, o capricho do destino.
Vejo na televisão os artistas: telemóvel, lantejoula, futuro, perfume oral, tudo lhes pertence. O problema é quando se lhes pergunta que querem eles fazer do País. Que obras, que mudanças, que fidelidade. Não sabem. Nem querem saber.
O que caiu ao rio Douro não foram só as vítimas do país triste que todos somos. O que caiu na água foi a máscara. Sobra-nos o rosto. E é triste, a expressão.
O Aveiro, Março de 2001
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