Falácia significa engano. Pior: engano matreiro, ardiloso, sacana.
Mas também significa Portugal. As sete dezenas de afogados da ponte sobre o Douro, em Castelo de Paiva, provam-no sem apelo e com agravo.
Não estamos nada, afinal, no primeiro pelotão da corrida europeia. De nada nos valem telemóveis, expos, capitais da cultura e circos afins. Somos, verdadeiramente, o país das pontes descalças, dos mortos inocentes, dos pobres de espírito que esperaram 48 anos por uma democracia em que vão deixando de votar.
O que caiu ao rio Douro não foi tão-só um cacho de vidas que cometeram o dislate de ir ver amendoeiras em flor. O que se perdeu no negro das águas foi o engano. Agora, podemos saber quem somos: um povo de afogados. Que ao menos disso ninguém se demita.
(Uma semana depois, quase tudo na mesma. A morte, que é a morte, já colheu os seus frutos vivos. A vida, que é sempre vida, chora nas margens, mergulha na corrente, explica-se na televisão, nomeia comissões de perguntadores para uma resposta que já estava dada há muito tempo.)
Aveiro, Março de 2001
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