27/06/2005

Uma Questão Incolor

Racismo é talvez, em Portugal, uma palavra pesada de mais. Por isso, torna-se provavelmente mais justo dizer discriminação. Vem a presente questão semântica a propósito de um assunto a que damos especial relevo na presente edição. Trata-se dos ciganos. Ou, para utilizar um eufemismo tido ultimamente como politicamente mais correcto, dos cidadãos de etnia cigana.
Quis o RL saber de casos que permitissem entender até que ponto é ou não o distrito de Leiria tolerante para com os indivíduos deste povo antigo. Tolerante e integrador. É sabido que, como um rio, uma questão como esta apresenta, pelo menos, duas margens. Há que saber se a tolerância, por exemplo, é privilégio de um único lado, restando ao outro a esperança de ser beneficiário dela.
A estrutura mental do povo cigano não é já, forçosamente, a mesma dos últimos séculos. Por isso também, será talvez mais conveniente abordar a questão não como um problema de acção (o que podemos nós fazer por eles, por exemplo), mas como de integração. Formulada assim uma possível plataforma filosófica para o tema, não resultará despiciendo, numa primeira fase, enumerar os pontos de desentendimento entre a sociedade não cigana e a outra.
Objecções comuns são, também como exemplo, do seguinte teor: “Se eles não descontam para nada e não pagam impostos nenhuns, por que razão deve o Estado construir-lhes casas?”. É uma questão a ter em conta, até porque, permanecendo-se numa ignorância humanista da razão de ser desta objecção, não é plausível esperar dos contribuintes (ciganos ou não) qualquer tolerância ou simpatia para com os que escapam ao esforço colectivo da taxa, do selo, da franquia, do verbete.
A ponte comercial já estendida entre as duas (ou mais) comunidades de cuja (o)posição aqui falamos não é suficiente. É necessário que a tal interacção passe pela escola, pela saúde, pela justiça. Nessa perspectiva, a questão da integração passaria a ter um outro nome: solidariedade. E este nome, como também não será por certo muito difícil de reconhecer, não tem credo. Nem cor. Nem etnia.


Região de Leiria, 23 de Junho de 2000

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Canzoada Assaltante