31/08/2011

ROSÁRIO DE ISABEL E DINIS seguido de OUTRAS FLORAÇÕES POR ESCRITO - 10 (conclusão)


·        No Porto, uma que se chama Rua dos Cedros. Nela, João Viana, 84 anos, colhido por viatura fora da passadeira. Ferimentos na cabeça.
·        Há um pedófilo à solta em Olho Polido (raio de nome…), freguesia de Outeiro da Cabeça (raio de nome…), em Torres Vedras. Abusou, pelo menos, de oito meninas com idades compreendidas entre os sete e os treze anos.
·        Perto da estação da CP de Rio de Mouro (Sintra) fica a Calçada da Rinchoa. Assalto à mão armada da loja Valores: ouro e numerário. Pronúncia brasileira dos assaltantes.
·        Homem doente acamado em casa (na Avenida Engenheiro Adelino Amaro da Costa, em Aveiro) não deu conta do ladrão ou ladrões que lhe levaram coisa de cinco mil euros em peças de ouro e relógios de colecção. Trabalho limpinho, na manhã quinta de Abril/2011.
·        Predador sexual de 56 anos. Violou, ameaçou de morte e emprenhou menina de 14 anos. Póvoa de Varzim. Presente a juízo, foi libertado. Terá de apresentar-se uma vez por semana na esquadra da área de residência.
·        O tal jovem do União de Paredes, Daniel Silva, de 23 anos, não resistiu aos ferimentos colhidos no acidente da madrugada do dia 4 em Penafiel. Morreu. Domingo, o União de Paredes enfrenta o Amarante.
·        Oitenta torneiras metálicas foram furtadas do sistema de rega da Cova da Beira (Fundão).
·        Cão de grande porte ataca rebanho e mata oito ovelhas. No Ladoeiro, Idanha-a-Nova.
·        Dez botijas de gás desapareceram de Oleiros.
·        A tal senhora do conimbricense Restaurante D. Pedro, Maria das Neves, desapareceu na manhã de 10 de Maio de 2010. Até hoje. Uma amiga, Hortense Gonçalves, continua intrigada. Viu-a pela vez derradeira na missa das cinco e meia da tarde da Igreja de Santa Cruz. Tinham feito o peditório juntas. O padre residente, Anselmo Gaspar, afirmou não ter detectado na desaparecida quaisquer signos de angústia. Pai e filho disseram nada aos costumes. Até hoje.
·        No Tribunal Judicial de Pombal há uma senhora juíza chamada Cristina Brites.
·        Homem sequestrado e agredido na casa-de-banho anexa à sua residência na Póvoa da Isenta, Santarém. Em Bragança, foi uma idosa, na madrugada de 5 do corrente Abril. Por dois gajos e uma gaja. O idoso escalabitano de 68 anos chama-se Joaquim David e andava a tratar das galinhas. A octogenária brigantina é nomeada Lurdes Henriques e estava em casa sozinha. O trio que a assaltou, foi identificado e posto em liberdade. Vão (irão?) a tribunal no próximo dia 14. Os badamecos têm 22 e 28 anos. A badameca, 18.
·        Palavras do Senhor: detenção de arma proibida, rapto, sequestro, furto, roubo, coacção, ofensas à integridade física qualificadas, ciúmes, homicídios nas formas tentada e consumada. Ámen.
·        Existe em Lisboa uma zona chamada Bairro dos Alfinetes. Mau sítio para táxis e taxistas. Nesse bairro, há uma artéria chamada Rua Carlos Gil. Já o Bairro de S. José é em Camarate. Também ruim para um carro de aluguer e respectivo “chófèr”.
·        Menor de 15 anos desapareceu do Centro de Acolhimento Casa do Canto, em Chão de Couce, concelho de Ansião, ao norte do distrito de Leiria. Chama-se Cátia Alexandra Damião. Mede metro e meio. Olhos e cabelos castanhos. Avistada pela última vez no sábado passado, lá para a Marinha Grande. Viram-na acompanhada de um rapaz.
·        Aos 41 e 29 anos, dois gajos deixaram-se apanhar pela Polícia na Praceta D. Duarte, Loures. Possuíam 120 euros em artigos furtados de um café.
·        Na penichense Praia Supertubos (raio de nome…), os oito tripulantes do Vento de Feição – um barco de pesca de 20 metros de comprimento – saíram ilesos do encalhamento. O barco, também.
·        À porta do tribunal de Viana do Castelo, uma toxiadolescente de 16 anos espancou com gravidade a própria mãe, de 34. A mãe chama-se Sandra Araújo. A filha agressora chama-se, naturalmente, Bárbara.
·        No Cercal do Alentejo, a Casa do Povo local vai começar em breve a distribuir aos neopobres do regime socrático.
·        A segunda-feira de Páscoa chama-se 25 de Abril, este ano. Em Ponte de Sor, vai haver o tradicional piquenique da Salgueirinha. Organiza-o o Rancho Folclórico da Casa do Povo. Além da animação musical, comete-se o habitual Sorteio do Borrego.
·        Quem quiser dar sangue em Setúbal, que vá hoje ao Instituto Politécnico (ESE) entre as nove da manhã e a uma da tarde.
·        Em Tavira, persistem as avarias na iluminação da ponte romana sobre o Rio Gilão. A Câmara Municipal atira a responsabilidade às ventas do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Paisagístico).
·        “Boys” do PS nomeados em massa-catadupa.
·        Na PT, prémios multieuromilionários aos gajos do costume-e-sempre.
·        Amêijoa proibida há treze dias no Sotavento Algarvio. Chatice. Conquilhas também interditas. Parece que o problema está nas, ou vem das, biotoxinas DSP: que arriscam vómitos e diarreia, a exemplo da situação política.
·        Figueira de Castelo Rodrigo: a loja social Arco-Íris apoia famílias em carência.
·        A Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal foi a Portalegre ganhar o primeiro prémio do concurso da especialidade.
·        Pessoas sós encontradas mortas: – a 8 de Fevereiro, Augusta Martinho, defunta em casa desde 2002, na Rinchoa, Sintra; – a 12 de Fevereiro, em Cantanhede, um homem de 71 anos, defunto há pelo menos três meses; – também a 12/2/2011, um homem de 80 anos foi descoberto sem vida em São Mamede de Infesta: não era visto há sete dias, no mínimo; – e agora, José Manuel Sousa, que teria hoje 61 anos não fora o caso de morrer e que era invisível desde 2007, foi achado cadáver entre o lixo acumulado no seu apartamento; era ex-bancário; ao n.º 21 da Rua Vera Cruz, em Santo Amaro de Oeiras; tinha as contas bancárias intocadas; sem luz, água e gás; não se dava com ninguém, a começar pela família; era um terceiro-andar. Já não anda.
·        Lapas, Torres Novas: o pároco local, Luís Filipe Gualdino, teve de receber escolta da PSP para poder sair da igreja; parece que foi autor de uma carta dirigida à Sociedade Musical União e Trabalho de Lapas, no qual documento instava os músicos a abandonar o edifício que pertence à Igreja. A coisa desafinou.
·        Obstetra Francisco Madeira, que esmagou, em Março de 2002, o crânio ao bebé do casal Ana Isabel e Lino Gonçalves durante os trabalhos de parto, condenado a seis meses de prisão com pena suspensa e a 40 mil euros de indemnização. Foi no Hospital Amadora-Sintra. O “herói” trabalha actualmente no Hospital da CUF Descobertas.
·        Às 11h36m, céu encoberto: mas luz e vento. Em Portugal Continental.

*

Às 15h48m, o ar abafa. Vento algo agressivo, luz parada estagnando-se.

*

Por alguns instantes no mesmo sítio de manhã cedo. O jornal, de espinha partida por muitas mãos, jaz alquebrado na ponta esquerda do balcão. Partido e alquebrado como o País que retrata (mas não retracta). Nação mais e mais insalubre, mais e mais irremediável, de agónica economia desbaratada por cúpidos corruptores, contumazes e relapsos inquisidores da Santa Roubalheira e do Catecismo de Merda. No televisor, programa de entretenimento para analfabetos mentais em simpatia-tipo-netinha para velhinhas de lar terminal. Um país-bocejo. E no entanto,

No entanto um homem, mesmo de suspensórios,
pode amar e devagar amado ser no dia.
Pode receber Kafka nas horas vãs do dia.
Pode falar com os mortos, fumar um cigarro

com eles, levá-los pela ponte ribeirinha
(pontes e mortos sempre se deram bem)
a ver como devastam os campos as novas
horríveis urbanizações-gaiolas para ciganos

e outros maganos
que tais.
No entanto, um homem
etc.

*

Nos sítios que a vida passada-presente se torna futura-passante, as inscrições comerciais do mundo:

– GANHE OUTROS PRÉMIOS
– QUADRO ELÉCTRICO
– STOP
– POR QUALQUER DOCUMENTO IDENTIFICATIVO
– ALDEIA DA SAÚDE
– CRÉDITO DE LEIRIA
– FEIRA DE MAIO
– SABOR NATURAL
– ETC.
– STOP.

*

Quantas coisas convivem neste homem (como em todos). Deste, na tarde sufocante, diga-se a retornada (e regressiva; e depressiva) apetência pelo eterno moço-velho chamado Kafka, a atenção ao país chamado Portugal, a degradação dos paradigmas (comportamentais, linguísticos, estéticos, industriais, laborais, financeiros, todos), as superstições religiosas, a circularidade activíssima dos crimes políticos, a ovelhização do Povo (que nem esta maiúscula merece, aliás), a lantejoula de feira-circo, o indesmentível teor florícola das crianças brincando ensimesmadamente à tepidez da brisa entardenoitecente, a inicial mácula que se volve mancha e/ou mágoa e/ou ambas. Quantas coisas, de facto. Pela noite, ele urde uma panela de sopa, um tacho de massa, uma pasta de pescado de conserva com leguminosas avinagradas. Abre uma garrafa de vinho e finge não esperar a redenção. Os meses (a maquinaria estrondosa é surda ao tempo mesmo) rangem nos elos dos anos (das horas).
Mas o que se dizia, é interrompido pela voz de uma mulher-rato. Voz roufenha como um altifalante feirante de cobertores e edredões. Fumadora da mais barata (ou menos cara) marca do mercado. Cabeleta espetada cor-de-óleo-de-fígado-de-bacalhau. Incapaz de (se) trabalhar mais um pouco, o homem levanta-se, paga a bica e sai cidade afora-agora-dentro.

*

Um agora chega de vez agora.
Quem soube querer, fica dentro.
Quem não coube – ou não soube – vai-se embora.

Baralha as cartas, parceiro, não as ideias.
Aproveita as lind&boas, não as más&feias.

As pessoas matraquilham rodovias puníveis
a taxas gregárias: ser lobo era antigamente,
a antiga mente de quando o Pai era vivo
e dizia coisas mais altas, coisas de Pai,
assim:

– Os meus filhos foram e são todos
o que de melhor me coube.

Quem não coube – ou não soube – vem-se,
embora.

Então filhos etc.

*

Não é triste chegar tarde.
É saber ter podido chegar cedo.
Uma mata em Agosto que arde:
trist’ em Novembro ter tido medo.

*

Começo pelo fim – como todos os caracóis nascituros. Mudei de idade e de cidade. Há por estas bandas vento também – e também filarmónico, na pele de um homem que usa o mês de Abril como o saxofonista sem saxofone. Entre Bencatel e Borba, entre Peniche e Portel: as vidas, os cantos do quarto, o bolor espermático das asneiras aliás simpáticas, aliás genéticas. O fim me começa, Amélia, Manuela, Paula, Camilo, Eça…

25/08/2011

Rosário Breve nº 221 - in O Ribatejo - www.oribatejo.pt - 25 de Agosto de 2011


País(agem) com Nuvem

Por um fim de manhã do débil Agosto corrente, dou por mim ante a Nuvem. Desconheço se se trata de um exemplar morfológico do tipo estrato, nimbo, cirro ou cúmulo. Com a idade, apercebo-me (não sem paradoxal contentamento, aliás) de que desconheço mais cada vez mais coisas.
Em frente a esta crónica óptica, sob a Nuvem, o disparador de água do jardim da freguesia entrecorta o jacto regador com chapadinhas nervosas e aritméticas. Ao alto, à contraluz da campânula azulejada (o Céu), a Nuvem é de face plúmbea, pré-pluvial, carrancuda, tremenda e inocente. Quedo-me sem pressa na contemplação dela: a ourivesaria solar, tíbia embora, reborda-a de vaporosa neve, como se as polegadas do divino artista estivessem maculadas de uma pureza a que já ninguém está habituado por causa da criminalidade fiscal.
A meu lado, na esplanada, excitada de nervosa doçura pela irrupção na praceta de um cão de marca Rafael (meio Rafeiro, meio Daniel), uma bebé grunhe onomatopeias de babujada saliva. Observo o cão eu também, mas atento-me à nuvem: preciosa rosa de água suspensa, alta testemunha dos nossos desgoverno e desconcerto humanos, efémera guardiã do sideral Grande Nada que tão depressa jura Deus como mata rodoviariamente famílias emigrantes à vinda de Fátima.
Nuvem: isto aqui em baixo é sempre terça-feira. Ou: isto aqui, Nuvem, é sempre em baixo. Mortal e coisa, a nossa vida pasma e plasma-se à mercê ríspida das varejeiras que facilitam e abreviam os despedimentos em lugar da afinal cristã obrigação da criação de emprego.
Vale-nos que não será, não ainda, amanhã que as mesas de matraquilhos passem a emitir recibos electrónicos sobre 50 cêntimos com IVA a 28% sem chance de retenção na fonte.
Talvez por isso, neste fim de manhã outonal já, apesar de aind’Agosto, eu sinta, ante e sob a Nuvem, que vale a pena persistir no amor incondicional, irracional e colectivo-genealógico ao País e à Paisagem dele: saracoteada a água da Junta que à relva muito verde asperge sob o quas’azul do Céu, não tarda temos aí chuva.

19/08/2011

Rosário Breve nº 220 - in O Ribatejo - www.oribatejo.pt - 18 de Agosto de 2011


João Baeta: um exemplo e uma alegria

Senti uma alegria olímpica ao ler as páginas 4 e 5 da edição passada deste Vosso jornal. Refiro-me ao extraordinário feito levado a cabo (Carvoeiro…) por João Baeta, o (tão) jovem scalabitano que, nadador puro de águas abertas, venceu, no pretérito dia 31 de Julho, os quinze quilómetros de mar entre as Berlengas e Peniche.
O meu saudoso Pai era um incondicional admirador de Baptista Pereira, o glorioso vencedor do Canal da Mancha. Agora, este menino de Santarém pode acalentar esperanças quanto à equiparação com aquele grande nome da por assim dizer silvestre natação portuguesa que o meu Pai tão justamente venerava.
Em tempos e dias de dura crispação como os que vivemos, a glória humilde de João Baeta não precisa de outro louro nem de outro incenso do que os da clara homenagem e do elogio franco ao empenho, à vontade, à planificação, ao desafio, à energia e ao valor por ele tão copiosamente demonstrados bem para lá e além das 5 horas, 24 minutos e 45 segundos de inquebrantável obstinação com que porfiou no mar, vencendo-o. Iguais considerações me merecem os outros dois desafiadores, Miguel Arrobas e Pedro Basílio: não tentar é que é perder, pelo que os meço pela mesma estatura do João.
Quando este menino diz, como disse, “Nunca pensei em desistir”, este menino lava a cara ao acabrunhado País que vamos e vimos sendo há anos de mais. E lava-nos a cara com água do mar, que é a substância volúvel do tempo líquido e a nação verdadeira de Joões Baetas, de Baptistas Pereiras e de todos os Portugueses que sabem que a desistência nunca foi, não é e não será jamais um desporto olímpico.

12/08/2011

Rosário Breve nº 219 - in O Ribatejo - www.oribatejo.pt - 11 de Agosto de 2011




Máquina-do-Tempo

Nunca gostei grande coisa de ser contemporâneo do meu próprio corpo. Significando isto: que o tempo (f)actual para que nasci, leitor, é de uma pobreza que sinto não merecer.
Assim, e em talvez ingénua alternativa, tenho feito da cabeça aquilo para que uma cabeça mais serve: máquina-do-tempo. Ou seja: estou aqui com este corpo, liquido o meu IRS, tenho facebook & coisital – mas é que habito, deveras, outras esferas.
Um destes dias, por exemplo, era para mim 10/5/1782. Dois dias depois da morte de Sebastião José de Carvalho e Melo, vulgo marquês de Pombal, um alvará régio proibia a vinda de mulheres do Brasil para o Reino de Portugal, então titular daquela então colónia. Dez dias e dois anos depois, um furacão assolava Santarém. A interdição de fêmeas brasileiras nos meandros de Lisboa & Arrabaldes não era novidade: já a 10/3/1732 (meio século mais dois meses antes, portanto) o anti-lenocínio por decreto tinha sido o mesmo.
Não, do meu tempo não gosto grande coisa. Prefiro-me por outras aragens e paragens. Prefiro-me, ileso de afins difamações, vivo-da-silva no dia 15/3/ 1751, quando passou a ser ilegal pendurar cornos à porta dos maridos atraiçoados. Ou então entre escombros em busca da família no dia 23/4/1909 de má hora, quando um terramoto trepidou Benavente, Salvaterra de Magos e Samora Correia, como se não bastassem já as cheias que nos afogavam sem clemência.
O dia 30/4/1984 já me não cola cromo à caderneta: em Abrantes, preconizava-se o PRD, fugaz partido que a 15 /6 do ano seguinte reunia em Tomar a sua primeira Convenção Nacional, Deus a tenha em Seu descanso.
Como poderia eu gostar de, aos 14 anos, ter 14 anos? Pois não rejeitaram a Presidência e a Assembleia da República amailo Governo uma exortação do líbio Kadhafi relativa à independência da Madeira, que, nesse ano mesmo, se recusou a comemorar o 25 de Abril?
O meu/nosso tempo sabe-me de mais à factura da água do Cartaxo, mais cara e mais abusiva do que a do vinho. Para minha consolação, porém, posso sempre adormecer na noite de 14/10/1773, data em que foi finalmente interdita na capital a livre soltura de porcos pelas ruas.
Só que, agora, não apenas voltaram, os porcos, às ruas, como não saem da televisão, das soberanias e da minha vida. Da minha vida – sem sequer uma indígena colonial das boazonas à vista para efeitos de, com o meu corpo de (antiga) mente etc.

04/08/2011

Rosário Breve nº 218 - in O Ribatejo - www.oribatejo.pt - 4 de Agosto de 2011


Toda a verdade quanto ao memorando da Troika


A Genciana do Abílio já não é do Abílio, agora anda com o Adérito, o Adérito que esteve junto com a Palmira uma data de anos e agora já não está, portanto a Genciana do Abílio agora chama-se Genciana do Adérito, só que o Abílio para se vingar agora anda com a Palmira e com a Violante dizem que também.
O irmão do Adérito da Genciana é aquele coiso que mora por cima da mercearia, de dia é muito agradável passar à porta dele porque nos sobe à penca aquele perfume compósito do café, do bacalhau, do sabão azul e da lixívia, não me lembra agora o nome do irmão do Adérito da Genciana, sei mas é que trabalha na oficina das motorizadas do Júlio que fica ao pé da Ramona Cabeleireira, a que dizem que gosta de mulheres e não é só de lhes mexer na cabeça.
Um que dizem que está muito doente com um câncaro na cabeça é o Emanuel dos Elásticos, também nunca teve sorte na vida coitado desde que a mulher lhe fugiu para o Algarve com o Dionísio que vendia cassetes do Dino Meira na feira aos domingos.
O Silva dos Seguros é que a leva direita, fez as nóvóportunidades e agora só aparece no café com livros de bioquímica industrial e manuais de glotologia renascentista debaixo do braço que até parece um doutor como os de antigamente quando os doutores estudavam mesmo.
O Germano Comunista que ainda é primo do Abílio da Palmira & da Violante é que anda muito danado com isto do presidente da Junta falar muito da troika e do éfémi mas não fazer nada com as manilhas do saneamento no caminho que vai para as casas ao pé da Ribeira onde houve aquele incêndio dos bidões de resina e o Germano Comunista também anda chateado porque agora já não tem Sócrates para dizer mal dele e das roubalheiras e das clientelas e do têgêvê.
Isto no fundo a vida passa e o tempo também, qualquer dia é Natal outra vez embora este ano digam que é só pela metade o Natal, comigo é igual ao litro porque passo recibos verdes e sou patrão de mim mesmo quando a minha Violante deixa.

Canzoada Assaltante