Fez este mês seis anos, uma família do concelho de Leiria esperava que lhe chegasse por avião, vinda de França, uma triste carga. Tratava-se do cadáver de um emigrante, que a morte resolveu visitar sem aviso nem recuo. Em vez do defunto, no entanto, o que chegou foi um cão. A companhia aérea tinha dado prioridade ao transporte do animal, que vinha acompanhado pelo dono, o qual estava convenientemente vivo.
O caso não é tão insólito como parece. Na verdade, aconteceram sempre e sempre acontecerão estas trocas aziagas. Não é raro que a pessoa à nossa frente pareça ser uma coisa, quando, na realidade, não passa de um lacrau. Ou até uma osga. Não é invulgar que o emprego que queríamos venha a revelar-se um campo de urtigas. Nem é nada de outro mundo que a pessoa com quem partilhamos cama e mesa tenha, afinal, nascido em Neptuno.
Assim sendo, o melhor é não esperarmos nada de especial. De tudo e de todos. É que a desilusão tem sempre origem na ilusão. E o dom da ilusão não é o melhor amigo do homem. O cão é que sim.
O Correio, Marinha Grande, 23 de Novembro de 2001
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