17/06/2005

Tropa

Todos os verões volto ao mesmo. Começam os incêndios, começo eu a lamentar em voz alta que os bombeiros portugueses continuem a não dispor dos apetrechos materiais necessários à sua causa heróica.
Em contraste, a tropa reclama por (ainda) mais gordos salários. A tropa quer submarinos.
Pergunto eu: submarinos para quê? Para detectar droga nas guelras dos carapaus?
Milhões e milhões são consumidos pela tropa.
Do outro lado da paz, os bombeiros vêem-se e desejam-se para enfrentar os múltiplos infernos florestais com deficientes e escassos tanques. Quase não têm helicópteros. Os helicópteros estão na tropa. Para quê?
Proponho que o que é gasto com a tropa passe a ser gasto com os bombeiros. E vice-versa. Tenho a certeza de que tal operação em muito beneficiaria o nosso País.
Como é evidente, ninguém vai fazer o que proponho. Como é evidente, a sargentada vai ficar fula com isto que aqui digo. Os bombeiros, esses vão sorrir um sorriso triste. E hão-de dizer para com os seus botões dourados: “Isto é tudo política...”.
Digo eu: é má política. Portugal precisa muito de bombeiros. Portugal está farto de tropa. Um simples bombeiro vale por dez generais. E custa cem vezes menos ao País. Todos os verões volto a isto. Para o ano que vem, cá estarei.
A incendiar a questão. Pode ser que um dia resulte. O leitor tem lume?

Palavras de Vidro, in Correio da Marinha Grande, 6 de Julho de 2001

Canzoada Assaltante