E então essa voz desse homem no corredor.
Mais espessa, de tão escura, no escuro.
O infante dorme no berço do quarto ao lado, torso de sono nu.
A mulher desperta ao negro clarim da voz macha.
"Pior é o Rui Paulo", cogita ela, guardando o infante da ameaça do não-progenitor.
Descerra a porta do quarto, o homem entra.
Beija-a, halicose uísquica que saboreia a seda do sono fêmeo.
"Não acordes o menino, por favor, se ele acorda, e como já fala tão bem, depois conta tudo ao pai no sábado de ele o vir buscar", malbucia ela.
O homem, "Acorda nada, tira-me mas é os sapatos".
Ela tira-lhos, subdeita-se, a pequena alegria do corpo autónoma da almargura, a fugaz explosão: fuga, gás, implosão, porco.
Alui-se o homem, arruina-se a mulher, inclinado o homem a 8% como nos sinais de trânsito.
Como um desmoronamento, o fragor das pedras da ribanceira, ou das de gelo no copo de base martelada, vidro grosso. (Mas não é tudo vidro?)
Ele dorme boquiaberto, tem uma cárie azul.
Sete da manhã, ela vai vigiar o Rui Paulo, que nada sabe nem contará, o meu menino.
"Também, o pai vive com outra, que também já era mãe quando ele."
Quando este.
Pombal, 29 de Outubro de 2004
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