Chamava-se Carlos Manuel Gomes Luís. Tinha 48 anos. Mostrava olhos claros a quem o olhava de frente, que era também a única maneira com que olhava os outros. A morte veio afligi-lo durante a madrugada de terça-feira última. Em vão foi tentado o socorro. Não foi possível a ninguém resgatá-lo da impiedade de morrer numa idade em que a vida começa a fazer sentido: com uma casa e uma família feitas pelas próprias mãos. Lembro-me de ter estado uma vez em casa dele. Mostrou-me fotografias dos anos da guerra colonial. Abriu-me o passado, a mesa e a amizade. Certas manhãs de domingo, encontrávamo-nos no café do sr. Henrique. Uma vez mais, dizia-me: “Então quando é que vocês lá voltam?”. Tudo indica agora, Carlitos, que o Zé e eu não voltamos lá. Voltasses tu, queríamos nós.
O Eco (Pombal), 3 de Março de 2000
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