Frangos
Dois homens e dois frangos. Um dos homens come os dois frangos. O outro, naturalmente, não come nada. Segundo a estatística, cada homem comeu um frango. A piada é velha, tão velha como a realidade, mas serve para percebermos que os dados estatísticos, sendo úteis, não são um instrumento suficiente para repor a verdade.
Serve-me isto para falar, por exemplo, das taxas de audiência televisiva. Por elas, percebo que a maior parte das pessoas assiste ao que não presta, em detrimento dos programas que lhe poderiam proporcionar alguma qualidade de vida.
Qualidade de vida? Sim. Estar informado permite fundamentar bases de raciocínio que aguçam as armas da vivência e da sobrevivência. “O povo estúpido é o mais fácil de governar”, disse alguém. Disse bem. Mais de trinta anos depois do 25 de Abril, somos efectivamente livres. Livres, até, de nos fazermos mal. Consumir lixo faz-nos mal. Mas nem sequer sabermos que estamos a consumi-lo, é pior. Muito pior.
As televisões, já nem com a excepção outrora (antes do Mogais Sagmento) honrosa do Canal 2, jorram pus para dentro das nossas casas. As crianças não podem saber que lhes faz mal. Mas os adultos podem.
A não ser que já contem para as estatísticas não como pessoas, mas como frangos.
Palavras de Vidro, in O Correio da Marinha Grande, 12 de Janeiro de 2001
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