À espera
Luz não intermitente da minha vida, a Leonor chegou-me a casa e disse de um fôlego: “Pai, a professora disse que vamos ter internet na escola”. Pode ser que vocês não conheçam a Leonor: tem 7 anos e frequenta uma escola do 1.º ciclo do ensino básico. Anda naquilo a que no meu tempo se chamava “2.ª classe”. A escola tem 12 alunos. Uma professora dá recado de todos os níveis.
A escola fica situada numa aldeia mais alta do que o mar. É lá em cima. Há uma capela e um coreto por perto. Em derredor, os casais praticam a agricultura num silêncio ancestral: couves, batatas, milho e arroz são as flores daquele canteiro.
De modo que a Leonor vai aceder à internet. Ela, que já habita o mundo virtual da infância, vai entrar na galáxia que um simples “rato” põe à disposição dos humanos. Eu, que vou tendo idade para fazer como o Senhor dos Passos (um pé à frente, outro atrás), penso que é uma boa notícia. A internet faz bem: é uma fonte, aparentemente inesgotável, de conhecimento. Agora, o que também quero é que ela saiba fazer contas, ler sem gaguez silábica e escrever sem atropelar a língua. Porque, quando desligamos o computador, o mundo concreto continua à nossa espera. À espera de que acertemos as contas que nos impõe, à espera de que entendamos as mensagens que nos dita, à espera de que lhe demos, até por escrito, a resposta que quer de nós.
Palavras de Vidro, in O Correio da Marinha Grande, 26 de Janeiro de 2001
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