Saio de noite, escolho um bar abrigado, suporto a música-ambiente e fico a olhar as raparigas lindas e vazias que entram acompanhadas de rapazes perfumados. Têm boas dentições, os jovens. Cercam-nas de arames odontológicos. Olho com discrição, anoto com discrição, abro o jornal e tomo notas a lápis na página das palavras cruzadas. Para que não desconfiem de que os guardo comigo: seus dentes bons, sua vácua beleza, que hei-de levar comigo, agora que sei, agora que é mais do que Novembro, que o médico me deixou saber a teia de aranha que me incha de ratos as vísceras e as necessidades mais elementares: sofrer a felicidade, anotar a beleza, escolher um abrigo, ficar a olhar.
1 Janeiro 2005
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