Por escolha, não vivo na cidade. Vivo numa aldeia. A minha casa é a última do meu lado da rua. Por sua vez, a rua acaba num pinhal, transformando-se em carreiro. A luz eléctrica falta muitas vezes, facto de que resulta poder ouvir-se o vento a falar nas árvores.
Os meus vizinhos são gente que consegue a mais complicada das coisas: viver em paz. De manhã cedo, vejo-os tratando de juntar lenha, estrume, pedras. Pela noite, sinto-os na adega, onde fazem o sumário do dia junto às pipas roxas. Cheiram a sabão e a terra, os meus vizinhos.
Há um café no outro extremo da aldeia. Na parede do café estão afixados prospectos que anunciam bailes, ofertas de trabalho para serventes de pedreiro e canalizadores. De vez em quando, há também papéis amarelos que dão conta de excursões à Serra da Estrela e ao Luxemburgo. Aqui bate o ponto.
Os meus vizinhos são gente simples. Muitos deles não têm carro. Quando muito, uma motorizada, sobre a qual cavalgam marido e mulher a caminho da feira e da missa de domingo. Por isso, às vezes vão na excursão. Um autocarro pára no largo. Eles embarcam. Se a viagem é por terras nacionais, à noite estão de volta.
Não moro em Castelo de Paiva. A minha aldeia não é a Raiva. Se fosse, eu teria ficado sem vizinhos. E eu sei a (muita) falta que eles fariam ao mundo. Como fazem os que se perderam no rio Douro.
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