17/06/2005

Aparentemente

As pessoas estão fartas de política porque esta, aparentemente, não lhes dá nada, antes pelo contrário.
As pessoas não estão fartas de televisão porque esta, aparentemente, lhes dá alguma coisa sem pedir nada em troca.
O aviso à navegação de hoje é este: cuidado com a confusão entre política e televisão.
Alguém lutou por nós muitos e muitos anos para que hoje pudéssemos dizer o que pensamos. O problema é que, aparentemente, a televisão anda a fazer tudo para que não tenhamos de pensar.
Digo isto com uma raiva húmida, amigos. É que, neste país de repolho onde nos mandam ser o estrume da horta dos corretores da Bolsa, toda a gente, aparentemente, sabe quem são os totós da televisão, do Carlos Cruz armado em malicioso inteligente à Teresa Guilherme armada em comunicadora de pulsões do hipotálamo, passando pelos inefáveis concorrentes que mostram o rabo cada vez que despem um arroto de ideia.
Neste mesmo país, acaba de morrer Manuel Hermínio Monteiro. Quem? Manuel Hermínio Monteiro? Como disse?
Eu disse: Manuel Hermínio Monteiro. Anos a fio, editou obras de máximo fulgor. Obras alheias, que, por valorosas, se tornaram património mundial e pessoal do mundo que cada pessoa é.
Cada pessoa, não. Já chega de fingir que merecemos todos o mesmo. Nós não merecemos o Hermínio. Merecemos o Marco e o Carlos Cruz. Aparentemente.

Palavras de Vidro, in Correio da Marinha Grande, 15 de Junho de 2001

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Canzoada Assaltante