Há não muitos anos, era possível determinar, depressa e bem, quem era da cidade e quem era do campo. A roupa era quanto bastava para saber. Com o correr do tempo, a distinção tornou-se precária. O pronto-a-vestir democratizou as coisas, a ponto de tudo confundir. Hoje, o “kispo” e os “ténis” já não permitem distinguir o miúdo de Alguidares de Baixo do de Alvalade. É decerto bom que assim seja.
Menos bom é que a falta de cultura tenha feito o mesmo ao modo de estar das pessoas. Hoje, sabe-se tão pouco de tudo aqui como ali. É certo que vivemos na sociedade da informação. Mas bem mais certo é não vivermos na sociedade da formação. Cavaco Silva não sabia quantos cantos compõem “Os Lusíadas”. Na campanha do primeiro mandato, Guterres não sabia o PIB. Teresa Guilherme, a “Grande Irmã 1-2-3”, essa até é bem capaz de saber, embora decerto se não vista num pronto-a-vestir.
Com tudo isto, desejo apenas deixar dito que não gosto da incultura do meu tempo. Verifico que cada vez mais o mau-gosto deixa de ser uma vergonha para se tornar num impune modo de vida. Falar mal e escrever pior são bandeiras. Desconhecer o bê-á-bá da Ciência, da Economia, da Literatura e da História é quanto basta para se ser aceite em toda a porta de discoteca e toda a assembleia municipal.
Tenho pena que assim vá sendo. Até porque os cantos de “Os Lusíadas” são só dez.
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