Na manhã fria, vi uma laranjeira. Era uma cabeleira verde escura toda salpicada de caspa de ouro de frutos. Uma laranjeira viva respirando o vento vivo. Quando o bafo da névoa se dissipou na luz das dez horas, pude verificar que se tratava de uma árvore de quintal, uma árvore domesticada, uma árvore proibida de ir longe. Conheço algumas pessoas assim.
Depois, observei o quintal. É um rectângulo de arestas roídas, uma terra bonita e mal amanhada onde só os detritos plásticos parecem firmar raízes seguras. Conheço um país assim.
O quintal é propriedade de duas ou três pessoas. Por uma razão qualquer, não são elas quem trata da laranjeira. Essas duas ou três pessoas limitam-se a ir buscar laranjas no dia certo. No resto do ano, desconheço o que fazem. Provavelmente, comem amendoins e deixam os saquinhos espalhados por todo o chão do quintal.
A minha ideia é esta: é preciso fazer a limpeza do quintal. A partir do chão. Até o cimo da árvore. Antes que venha a noite.
1 comentário:
Concordo inteiramente!
E até já sugeri alguns modelos de aspirador para o efeito. Claro que houve logo quem achasse os meus aspiradores irreais. Mas apenas porque eram radicalmente eficazes.
É que a partir de certa altura (de porcaria) os quintais já não se limpam com meras vassouradas...
Enviar um comentário