17/06/2005
Gaivota
Às três da manhã, regressava a casa. Faltava-me um quarto de hora de viagem, mais ou menos. À saída da ponte, apercebo-me de que o carro da frente tinha parado num sítio e numa posição esquisitos, já meio dentro de uma rotunda. Em derredor, mais ninguém, só o meu carro e o outro. O condutor tinha aberto a porta e ajoelhara-se na estrada. Abrandei, preparando-me para parar. Não foi preciso. O outro tinha retomado a marcha. Vi-o olhar pelo retrovisor. Olhei para o lado em que ele se tinha ajoelhado. Então, vi. Ainda viva, mas já tão pouco: uma gaivota. Pela cor da plumagem, soube que era jovem. Uma criança, por assim dizer. No asfalto, a caligrafia escarlate do sangue, autógrafo da morte. Roubámos este mundo aos animais. E, como se tal não bastasse, mandamo-los para o outro depois de uma execução sumária sem culpa provada.
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