Recordo da infância os elefantes enciclopédicos p’los campos de couves da portugalidade nada tropical de Portugal.
As mercearias vigoravam.
Era bonito receber estrangeiros, tartamudear francês para anglófonos holandeses que vinham ao peixe frito, à curiosidade antropológica dos estéreis filhos do salazar estéril.
A vida como seminário sem latim (ou mim) contemplação.
A vida que nos não contemplava.
Agora as estações-de-serviço eram bombas.
E as bombas explodiam nos taunus, nos capris, nos fiats-650, nos austins-850, nos vóquessóles.
Era a infância, era não ter nada para recordar senão nos sonhos.
Na infância, recordei em sonhos isto:
um homem de quase 50 anos,
recordando num caderno
o futuro de ontem.
Posso garantir-te,
como tu aliás já me garantiste,
que isto é quase nada – e apenas triste.
*
Fechar-me em casa, deixar crescer as unhas, a barba.
Ter casa, ter um fecho, ter saída.
Ter uma vida, ser um homem dentro da noz.
Mudar de óculos, de barba, de baba, de voz.
E de vós.
2 comentários:
Passei. Vagueei. Fruí. E nem me digam que não vi o que vi, que eu vi! E parece-me bem que bem gostei de vir aqui!
Olha o Jorge. Bem-vindo, Amigo.
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