PAUL VALÉRY
(1871 - 1945)
212.
VARIAÇÃO & PERMANÊNCIA
Coimbra, sábado, 19 de Dezembro de 2020 (I)
Coimbra, domingo, 20 de Dezembro de 2020 (II)
Coimbra, segunda-feira, 21 de Dezembro de 2020 (III-V)
Coimbra, quarta-feira, 23 de Dezembro de 2020 (VI)
Coimbra, quinta-feira, 24 de Dezembro de 2020 (VII-IX)
Coimbra, sexta-feira, 25 de Dezembro de 2020 (X)
I
Escreve Paul Valéry:
“Nous avons beau invoquer notre mémoire; elle nous donne bien plus de témoignages de notre variation que de notre permanence.”
Sábias palavras de um livro em muitos sentidos profético: Regards sur le Monde Actuel, obra originalmente publicada em 1945. Comprei o meu exemplar no dia em que a minha Mãe completou 59 anos de nascida: quinta-feira, 27 de Outubro de 1983. Foi na Livraria 115, às Escadas do Quebra-Costas. Preço pago: 260 escudos. Escrita, esta memória tem afinal tanto de variation (já não tenho Mãe viva, o dinheiro é euro agora) como de permanence (Valéry continua a profetizar, em cheio, quanto a acertadas coisas do então-porvir. Em outros aspectos, todavia, nem tanto assim, note-se. De qualquer modo, é livro sumarento).
II
(À medida que vou dáctilo-compondo este VinteVinte, revisito o passado-recente: nunca deixa de ferir-me a fugacidade. Sem registo-manuscrito, mais fugaz seria ainda esta corrida insana que medeia ter-nascido de ir-morrer.)
III
Uma senhora italiana & um senhor argentino trabalham nos bastidores de um salão associativo financiado pelo município. É algures na Alemanha, penso que a noroeste da Alemanha. Lá fora, vai meã a manhã: fria + límpida = frígida. Às onze, pausam. Tomam chá forte, mordiscam barrinhas de chocolate-negro. Retomam o trabalho até às duas da tarde. Quando terminam, o platense tem a esposa esperando-o no camarim. Solteira, a calabresa parte sozinha. Acontece muito.
(IV)
(Sinto menos comunhão com o rebanho.
Tem vindo a ser crescente o alheamento. Talvez deva dizer – alienação. Não é casual. Não é fortuita. Não é efémera. É o que é & como é.)
V
Uma notícia refere “milhares de milhões de dólares”.
Outra acentua “subida gravosa da pobreza” – mas não diz dolo.
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