21/01/2021

VinteVinte - 209


Sem humanos, monstros não haveria
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O par Ian Brady / Myra Hindley não é assim tão raro



209.

 INTERRUPTA IMANÊNCIA

 Coimbra, domingo, 13 de Dezembro de 2020

  


    [I] 

    [Em determinada zona desta Cidade, certos energúmenos há que arriscam a paz & a segurança dos outros. O que fazem, ao que há muito vejo, é da mesma cor da merda. Estes cordemerdas vivem do alheio – público como privado. Não se deve passar com uma criança em sua periferia. Nem no deserto é de se lhes dar um copo de água. Os cordemerdas nutrem pelos outros (todos os outros) um profundo rancor. Tudo lhes é dado, não sei porquê. Nada se lhes nega ou sonega, não sei porquê. Se fazem parte do género humano? Não. Fazem parte do género cordemerda. E têm-se espalhado. Da Cidade, partem à conquista de bastiões antigamente reservados a gente decente. O cordemerda típico – pior ainda – é incolor. Temo que seja dele o porvir. Poucas vezes firmo & afirmo algo com este grau de lúcido receio & este aparato de receosa lucidez.] 

    II 

    Sem humanos, monstros não haveria. 
    Creio que a Natureza emendará a mão. 
    Quase é de sentir pena, mas só quase. 
    Corre mal o que pode correr mal, diz o M. 
    E tem razão, o lúcido malandro. 

    Dia não há sem que tal se verifique. O real não falha a si mesmo. As artes podem não melhorá-lo – mas ajudam o vivente a suportá-lo. O par Ian Brady / Myra Hindley não é assim tão raro, tão excepcional ou tão incomum pode pensar-se. É apenas mais notório por mérito da propaganda. Mas há mal inerente ao humano: o vizinho é para matar – e de preferência em avalista nome de um deus qualquer. 

    (III) 

    (Sei bem que o exposto em I & II infringe, contradita & profana o repugnante político-correcto desta era. Ainda bem.) 
 
    IV 

    Sei do corrente serão as constantes universais 
    Universo & indivíduo irmanam-se por essência 
    Há até quem diga que por imanente transparência 

    (…) 

    (Interrompo a versalhada porque me apercebo de rodapé noticioso dando conta da morte do escritor – grande escritor. John Le Carré. Tinha 89 anos. Deixa-nos enormíssima obra literária – e não redutível ao rótulo vão “de espionagem”.) 




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