15/01/2021

VinteVinte - 189 (V-VI)

(desconheço autoria da foto)


Foi no Caramulo que mais me acerquei da obra



V


Três homens: um de 1922, dois de 1933.
Li-os a todos, recebendo a variação-em-universal de cada um.
Funcionam como tesouros concatenados, assim o digo.
Um deles conheceu Paris, Madrid outro, Veneza outro ainda.
Todos são (de) Portugal, que o não rejeitam, antes aumentam.
Algum na Mexicana, ali à Praça de Londres, Lx.
Ou na noite de Santiago do Cacém.
Ou em o azul de Tróia.
O trio é trio aqui, pois que agremiado em página
– mas cuidado, são a solidão mesma vezes (vozes) três.

Foi no Caramulo que mais me acerquei da obra do de 1922.
Ambos os de 1933 pratiquei – e pratico – por toda a parte.
São de reservadas con(v)ivência, entrada, permanência, lombada.
Desconheço se alguém conserva as máquinas-de-escrever deles.
Um deles estudou Picasso & Chaplin.
Um deles tratou com banheiros & pescadores.
Um deles eter(n)izou a mãe & a minúcia ignorada.
Não Vo-los vendo; quando muito, apregoo-Vo-los.
E se for em papel o melhor da vida?
Ou tela? Ou pedra? Ou pauta?

Vejo-os mineralmente sendo cais.
Chama-os a miragem da barra.
Habitam anos que não pude respirar.
Já de cor conhecem alternativas.
Nunca feios, nunca porcos, nunca maus.
Isto sim: sempre bons, lavados, formosos.
Se envelhecer deveras, algo não perdi.
Um deles lê Antero.
Um deles lê Montale.
Um deles procura Herculano no Natal a só de Peniche.

VI

Francisco com Rosa na casa em frente.
Gatos de lá para cá de cá para lá.
Indo sobre o folhedo outonal à fonte.
Merecendo a liberdade final já.
Espécie de paz, espécie de diário domingo.

Rosa com Francisco, gatos serenos.
Lenha empilhada em canto enxuto.
Não soou ainda a dobre-finados.
Soalho de ripas, caliça branca.
Alguns foto-retratos de outro século.

São reais nesta página-instante.
Não esperam nem, que eu saiba, desesperam.
Cada coisa de cada vez, incluindo a coisa-dia.
Como as refeições, as sestas, as luas que uma só são.
Como a hora em que lhes falo & os escuto.

Juntar ainda um pouco, como à lenha se faz.
Chamar ainda nossa a alguma coisa.
Um naco de presunto, os retratos na caliça.
Nomes para um catálogo ex-meu um dia.
Levanto-me cedo, é outra a casa, não mais os reverei.




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Canzoada Assaltante