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Patrick Rotman
Goulag
- Une Histoire Soviétique (France, 2019)
191.
PONDO A MÃE A RENDER
Coimbra, sábado, 14 de Novembro de 2020
I
Recolhido a casa está quem tem a que chame casa
O mundo local desconhece para quando o fim da mascarada
Carnaval é este dos mais bisonhos, ninguém se ri
Morrem os velhos mormente, há-de aos novos chegar a vez
Descobriu-se de repente a insuficiência das máquinas
Sabe-se de repente que não há economia sem pessoas
Foi preciso a China exportar o vírus para se saber o óbvio.
Nada tenho que oferecer ao mundo ou a esperar do mundo
O humano género é suicida, conspurca o prato-planeta de que come
Saiu-lhe agora a fava do invisível bicharoco covídico
Outro virá como muitos vieram já
A peste é afinal bípede & chama-se Humanidade
Por um pires de lentilhas põe a própria mãe a render
Se não me crês, vem tu daí comigo ali ao Largo das Ameias.
Não tínhamos de fazer do coração uma casa-de-putas
A tal ninguém nos obrigava, havia só que estudar
Honesto estudo em prol de avisado engenho
Sabermos beber da fonte sem contaminar a água
Trabalho para todos, pão para todos, deuses nenhuns
Mas a verdade é humana, portanto mentirosa
Nenhum verso que eu possa, pode seja o que (não) for.
II
Adormecem no sofá, um por sofá, um sofá por sala, uma sala por casa.
Nas vinte casas da rua, o mesmo adormecido dezanove vezes repetido.
O televisor ainda ligado a falar como de costume para o boneco.
O jarro com as gardénias de plástico nunca viu água na vida.
E na parede o poster do Che dizendo Liberdade ou Sono.
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