(VI)
(Saí hoje, por uma hora, à Cidade. Não trago história. Fui depressa, não voltei devagar. Andava-me alhures a mente. Já nem estranho. A minha normalidade é interior. Estranho um pouco a externa – por vezes, nem sempre. Também não ia em demanda de enredo. Tinha uma coisa a fazer, acabei fazendo três. Estou abrigado. O ano vai morrendo. Fica como número-esquisito. Ano do vírus-chinoca. Não tarda, será tão-só um incêndio extinto perdido da vista ao longe. Os crematórios têm trabalhado muito & bem – bem & muito têm laborado as agências-funerárias. Há sempre quem ganhe com a perda alheia – é dos livros: e o meu é um deles, quase acabado agora.)
VII
Autenticidade, ilusão de ser-se único. Identidade própria versus (ou em versos) o resto do mundo – ido mundo, presente e/ou futuro mundos. Como se cada um fosse (mas não é) mais do que assentei naquela velha linha:
saco de vísceras apertado em cima por um olhar.
Não significa fatalismo. Não tem sequer de significar alguma/qualquer coisa. Futilidade. Vanidade. Vontade. Problema: não o de se ter mas o de se ser uma consciência. Como se o nosso sistema neuroeléctrico fosse o centro de um universo que nem centro tem. A treta da alma, a treta do deus-pai, a treta da mãe-virgem, tanta treta.
Quem pode, envelhece. Quem pode, aguenta-se. Quem quer, aprende. Não aprende tudo. Só alguma coisa. Tudo não é possível. Faúlha. Centelha. Faísca. Cisco. Chispa. Cada um é faúlha, centelha etc. Quem aprende, aceita isto. Se não aceitar, é o mesmo.
A carneirada bípede enche as lojas para imitar a carneirada bípede que já foi às lojas. Chamam-lhe Natal. O deus-menino sufocado pelo gordo-das-renas-lapónias. Comèdiazita cíclica.
Não temos de fazer da vida uma escola ao abandono. Pode ser-se decente sem qualquer custo-acrescentado. Não é obrigatório embarcar no lugar-comum-&-banal-&-venal. Cear a sós não é o pior que nos pode acontecer. Não ter que cear há-de ser bem pior, amigos.
(VIII)
(Noite vinda. O Emanuel nasce daqui a pouco – so they say. Consoada-confinada. (...)
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