05/01/2021

VinteVinte - 177 (III)


Da janela, parece normal o alheio mundo



III


Algum sol esclarece hoje a matina outonal. 
Algures, bétulas branqueiam o ar movediço. 
Homens escavam uma vala além a poente. 
Vigia-os uma máquina muito amarela. 
De minha cidadela promontória, vigio as miniaturas. 
Miniaturais de facto semelham carros, gente, barracos. 
São todos, enfim, da envergadura que podem. 
Da janela, parece normal o alheio mundo. 
Há uma velha amalucada no prédio ao lado. 
Tem acessos acesos de iracundas raivas. 
Deve sofrer, coitada, de visitantes invisíveis. 
Está na paragem-bus um esplêndido careca. 
Ao sol matino refulge lustral sua calva. 
Parece uma bola-de-bilhar com pernas. 
(Não estou a rir-me dele, faço versos tão-só.)


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Canzoada Assaltante