V
Nevoeiro denso no crepúsculo do ano 1986. Subiu da água-salina às fragas oblíquas do cabo. Assisti a esse jubileu silencioso – era como se mar & pedra se sonhassem mutuamente. Majestade total dos elementos – anotei então. Anotei com acerto: deveras, a imponência do espectáculo sobrepassava a mera nótula de ilustração-postal. Era um poder prisco, primevo, ante- & pós-humano. O grande manto penetrou a interior daquele istmo. Pouco demorou a que à povoação chegasse & à povoação cegasse. A ermida foi a primeira presa. Depois, o casario camarário dos mais pobres. Tomou a muralha oriental, assimilou a rua comercial, apresou a guarda-fiscal & a lota. Os barcos dissolveram-se no negativo daquela prata.
De manhã, a luz tinha a nitidez pura do frio. O ar semelhava vidro lavado a gelo. Só fui dormir quando já passava das oito. O meu quarto de então deitava olhar ao terreiro que antecipa o forte.
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