© CRUZEIRO SEIXAS
205.
OU N. D.
Coimbra, quinta-feira, 3 de Dezembro de 2020
I
Centenário, hoje, do nascimento de Artur do Cruzeiro Seixas (que morreu porém a 8 de Novembro último, falhando por pouco as cem velas). Em Fevereiro passado, foi o de Joel Pina. Também este ano, o século da primeira-luz da divina Amália. E o de Bernardo Santareno. Morrem entretanto, além de Cruzeiro Seixas, o treinador Vítor Oliveira, o filósofo Eduardo Lourenço, o ex-PR francês Valéry Giscard d’Estaing. É o fulgor da Grande-Roda.
II
Continua-se. Entretém-se o tempo disponível. A manhã já ardeu, a de hoje. Ali, provisões guardadas em reserva. Aqui, possibilidade de papéis com substância. A descomunal indiferença cósmica pelo humano? Veja-se nela pacificação, querendo ou de tal precisando. Esta casa dando-se, concha, ao bicho-em-espiral. Manter esta voz interior em transmissão contínua mercê da cifra escrita. Referir Adriano, Cláudio, Marriott, Dillon, Slade, Kirby, Dupin, Horácio, Bruno – em andamento sempre, por mais confinado (que ’inda não-finado) o corpo.
[III]
[Numeradas romanamente, cada subparte de cada entrada/dia pretende tão-só dar, de si-mesma, o si-própria. Não visa nem quere nem pode qualquer articulação sistemática do ser/estar/ter/haver/&/perder desta (mesma & própria) vida.]
IV
A Cidade. Cada pessoa, cada cidade. Como a vida, irrepetível.
Encontro, só-a-sós. Nenhuma fala – mas toda a pedra.
É engraçado, sei mais dela agora, agora que se acaba o ano.
Ou antes: agora que se me acabam os anos.
Sim. É isto o que quero significar. Balcão ao sol. O cego & o doido.
(Dois-em-um, às vezes.) Insensata correria.
Porcariazitas (milhentas) comportamentais: fazem parte, são.
Mais são os salões-de-cabeleireiro do que as mães.
Deixaram cair as letras, não se sabe de quem seja o busto:
que vida ali está de gravata, óculos, expressão cismática.
Ubíquo troar buzineiro. Fancaria. Uivos-do-INEM.
Mercadores de aflições. Doutores pequenitos como caricas.
Bandeirolas. Padres-américos. Padres-cruzes. Padres-canhotos.
Eletricista empoleirado, precário, renovação do quiosque.
Jogos-da-santa-casa. Até a humidade apodrece.
Cozinha-dos-pobres-sopa-do-sinónimo-perdão-do-sidónio.
Bilhetes & averbamentos.
Ao sol, a igreja urbana, mais impessoal do que a aldeã.
Consultório ginecológico-obstetrical. Manequins decapitados.
Vestidos para noivas. Mais um cabeleireiro. Bar manhoso.
Chineses sempre de clandestina discrição, secretos expostos.
Ou nada disto.
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