IX
Fomos uma noite à ópera.
O espectáculo era extenso: três horas. Merendámos antes no salão-de-chá de Baltazar Godinho. Já então conversávamos pouco, o que significa tão-só que muito bem era que nos entendíamos. Não minto, não preciso minimamente de mentir.
Saciados de música, decidimos cear. Quisemos ambos peixe, pelo que se tornava óbvia a escolha da Cervejaria Medusa, afamada desde 1925, nada menos. Recolhemo-nos antes das três. Insisti em que fosse ela a chegar primeiro a casa. O chauffeur dela deixou-me depois no Palace.
Faleceu há duas semanas, ela. Só o soube hoje – e muito por acaso. A tantas cidades (e idades) de distância, logo calhou que ao balcão do banco dois cavalheiros conversassem sobre o enigma relativo a quem-quando-&-quanto herdaria a fortuna da Senhora Braz Castello, rendada & prendada viúva do cimenteiro que lhe deu altar & posição com aquele par de apelidos.
Para mim, foi sempre Sónia, Sónia Maria Cadete dos Santos. Mais não digo. Não importa. Continuo a gostar de ópera, mesmo a sós.
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