X
Em frente ao Instituto de Medicina Legal, na manhã primaveril. Ferdinando Tieres, Gabriel Julho, Amélio Campos, outro cujo nome se perdeu nas brumas, mais ninguém. Amélio & o Anónimo nada dizem. Gabriel pouco diz. Ferdinando resume-lhes a informação disponível. Separam-se então. Amélio leva Gabriel até à Portagem, Ferdinando & o Anónimo despedem-se um do outro logo ali ao Largo da Feira.
Os anos passam – e na aparência mais depressa do as manhãs primaveris. Ferdinando: o desespero levou-o a converter-se à fraude da Cova da Iria; Gabriel não dura muito nos empregos que, cada vez menos, vai arranjando; Amélio dá-se bem com a realidade, torna-se contínuo-chefe de uma escola preparatória; o Anónimo ingressa na polícia municipal, faz carreira discreta, mais que a aposentação não ambiciona.
Em razoável forma uns, em medíocre outros – estão os quatro vivos em Novembro do Ano-VinteVinte. Nada mau para quatro desavindos com a vinda naquela manhã da morte confirmada de Manuel David, que, dos cinco, era de longe o melhor, dúvida nenhuma. Morreu primeiro, apesar disso. Coisas.
XI
Antes de ocupar a casa velha, limpa-a.
Dá as manhãs de quase todo o Janeiro à tarefa.
Torna-se prazer o que julgou ser frete.
Quebrou o mobiliário decrepito, guardou-o como lenha.
Reparou os tacos do chão, mudou a louça sanitária.
Pintou interior & exterior, segou a vegetação do quintal.
Remobilou-a toda, ocupando-a a 30 de Janeiro de 1985 (uma quarta-feira).
Ainda lá mora, que eu saiba – mas eu sei pouco.
(XII)
(Deu-me hoje para pensar um pouco em Roberto Bolaño. Já morreu – e não de velhice. Também já morreu – e não-velho também – o Amigo que me deu a ler pela primeira vez Bolaño. Sou quem resta de tal profaníssima trindade.)
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