14/12/2020

VinteVinte (I-IV, sem cortes)

© DA. 12 de Fevereiro de 2016, 18h26m 


154.

 

BREVES LAPSOS

 

Coimbra, quinta-feira, 1 de Outubro de 2020

 




I

    Outubro, já. Começa o derradeiro trimestre deste ano esquisito. No mínimo, esquisito.

II

Por sucessivas fatias umas a outras associadas,
acorrem à mão-redactora demandas, as da/por Beleza.
Chamai escapismo (*) à arte-pela-Arte: chamadas
tais me não fazem incorrer em vil tristeza.
Demando-A sim, ela só me resgata do império
chamado imbecil triunfo de tanto imbecil.
Li ontem de um deles o jubileu: a sério
que tomais por venerando mestre a tal camelo vil?
Ontem prefiro viver como se foram novos
– que os colhões, por peludos, não são ovos.

(*) “Mais uma vez afirma que a melhor finalidade da leitura e da escrita é o entretenimento, afirmação que levou alguns críticos a acusá-lo de escapismo.” – in Dados Biográficos como intro à edição & etc (Lx., 2005, tradução de Célia Henriques, supervisão literária de Vítor Silva Tavares) de Uma Apologia dos Ociosos de R.L. Stevenson. 

III

Permiti-me, ó Vós, por voz minha ora Vos diga
da consistente fortuna, a qual é ser ’inda amado
por a lembrança mesma de meus Amados Mortos.
Gentil utopia essa – e tal, que falecer não pode, a tal,
mesmo ante a feroz essência da existência real.

IV

Breves lapsos de consciência m’inscrevem no teatro-cego.
Há coisas, que foram gente, que nunca mais emprego.
Saber, sabem pouco-nada-zero da natura diferente
do sentir-se pensando – mesmo estando doente.

Do ente, a génie singular única só pode ela ser.
Não há nisto patranha, nem baba com que aranha tecer.
Amo sem remédio nem destino o tempo feito olvido
– e nada do que V. abro faz, em livro, sentido. 


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Canzoada Assaltante