IV
Samuel Paty, o professor francês assassinado na sexta-feira, 16 de Outubro de 2020, é homenageado hoje em cerimónia público-(inter)nacional na Sorbonne. A França abriu há muito as pernas a toda a escumalha, islamita incluída. Aí tendes a paga & o símbolo: um professor de História, mestre & apologista do livre-pensamento, morto em casa, sua casa – que o mesmo é dizer na sua escola. Aí tens, França, a paga de abrires as pernas – e de fechares os olhos.
V
Apesar do exposto em IV, temo estar, cada vez mais, menos interessado no real-quotidiano – tanto o local quanto o nacional, tanto o peninsular quanto o continental, tanto o deste lado do mar quanto todos os demais lados dos demais mares. O meu Gato é tão mais interessante quão nem a cotejo deve ser sujeito. Digo-o com certo (mas pequenino) desgosto.
VI
Sem corpo, consciência nenhuma, mente nenhuma
– e alma, muito menos.
Não há (ou não hei, admito) volta a dar-lhe.
Sem a instância-corpo, só ante- ou pós-trevas.
Olhos & luz dependem-se.
As religiões são de uma ignorância criminosa.
Têm por indubitável o que só dúvida suscita.
Ou antes: nem dúvida, pois que se sabe
ser impossível saber.
Por que há coisas, tempo, mundo?
Porque a minha consciência as determina.
E se eu não tiver já corpo? Nenhuma consciência.
E então? Nenhuma coisa a tempo de ser mundo.
VII
De Darmstadt, o jovem atleta em Lagos, ao sol.
Com ele, de Konstanz, a namorada xadrezista.
Iniciadores dinásticos, pensei eu de imediato.
No Inverno seguinte, trocámos correspondência.
As cartas rarearam, desvaneceram-se enfim.
De Galveias, a moça fornida, grávida aos quinze.
Os pais do rapaz pagaram-lhe o desmancho.
Aos dezoito, os mesmos compraram-lhe bilhete.
De barco, para St. Ives, em Cornwall.
Que eu saiba, ainda lá mora & trabalha.
De Barros Secos, o moço magro, coxo da esquerda.
Brilhante carpinteiro naval, todos o diziam.
A solidão adulta comia-o por dentro sem tréguas.
A prostituição não lhe resolveu o problema.
Morreu de uma úlcera gástrica demasiado séria.
São nomes ora incorpóreos de sítios utópicos.
Na mente do leitor, pode que se recomponham.
Não sei – pugno por uma realidade alternativa.
Muito do que se não vê, sabe-se de outiva.
Aprender bandolim, recordar Ciccio da Calábria.
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