18/12/2020

VinteVinte - 158 (XIV, XV & XVI)


 
XIV 

Azula ao longe (e, por longe, muda) a sinistra ambulância. 
Na noite para outros plácida, vão aflitos aqueles em pressa. 
Da marquise, assimilo a hora & a distância. 
Não me dana a cobiça nem m’atiça a ganância. 
Por enquanto hei razões p’ra seguir o que recomeça. 

Há casas porém que a esta hora precisa & mesma 
pranteiam seus mortos do dia – do vírus ou não. 
Tinto luto os enegrece de versos cuja pesada resma 
já há muito folheio eu também: lês-ma 
em estes mesmos, que dão corpo à minha ínvia condição. 

XV 

Povoação a norte, de antiga pedra segura. 
Muros afirmam, perdão, a firmam contra os ventos de Espanha. 
Olivedo esparso, ralas azinheiras trémulas. 
Mormente soutos fortes, por que pastor, cão & rebanho. 
Cinge-se o cincho para queijo, a cincha ao cavalo. 
Bonito é de mais não precisar – nem de menos. 

Eleutério, meu bom amigo correeiro, saúde tenhas. 
Eustácio, bravo ganadeiro, a paz sempre contigo. 
Ermelinda, ó erma & linda, que te venha noivo. 
Engrácia, vil impostora, trato não tens de senhora. 

Por aqui houve correria de chusmas moiramas. 
O mesmo é ainda traço de orografia. 
Daqui houve nascença Simão de Venceslau Couto. 
Aqui veio morrer Santa Esdrúxula de Pontevedra. 
E à passagem meu verso aqui medra. 

XVI 

Cintada a granito sem cimento, a quinta demorou o Tempo. 
Almácega, poço, nora, galo-dos-ventos, rosa. 
Rosa: prístina à nascença já, que à dos avós remonta. 
E no salão senhorial as armas brasonadas. 
Ainda um velho vem aparar as rijas sebes. 
Ainda fantasmas choutam na cavalariça. 
Ainda a feraz horta pare copiosa hortaliça. 
Sim, adentro a mansão prosperou de donzelas a ilusão. 
O velho senhor, que da úrica má-sina manquejava, 
dava esmolas caprichosas a Santa Bárbara Escrava. 

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Canzoada Assaltante