XIV
Azula ao longe (e, por longe, muda) a sinistra ambulância.
Na noite para outros plácida, vão aflitos aqueles em pressa.
Da marquise, assimilo a hora & a distância.
Não me dana a cobiça nem m’atiça a ganância.
Por enquanto hei razões p’ra seguir o que recomeça.
Há casas porém que a esta hora precisa & mesma
pranteiam seus mortos do dia – do vírus ou não.
Tinto luto os enegrece de versos cuja pesada resma
já há muito folheio eu também: lês-ma
em estes mesmos, que dão corpo à minha ínvia condição.
XV
Povoação a norte, de antiga pedra segura.
Muros afirmam, perdão, a firmam contra os ventos de Espanha.
Olivedo esparso, ralas azinheiras trémulas.
Mormente soutos fortes, por que pastor, cão & rebanho.
Cinge-se o cincho para queijo, a cincha ao cavalo.
Bonito é de mais não precisar – nem de menos.
Eleutério, meu bom amigo correeiro, saúde tenhas.
Eustácio, bravo ganadeiro, a paz sempre contigo.
Ermelinda, ó erma & linda, que te venha noivo.
Engrácia, vil impostora, trato não tens de senhora.
Por aqui houve correria de chusmas moiramas.
O mesmo é ainda traço de orografia.
Daqui houve nascença Simão de Venceslau Couto.
Aqui veio morrer Santa Esdrúxula de Pontevedra.
E à passagem meu verso aqui medra.
XVI
Cintada a granito sem cimento, a quinta demorou o Tempo.
Almácega, poço, nora, galo-dos-ventos, rosa.
Rosa: prístina à nascença já, que à dos avós remonta.
E no salão senhorial as armas brasonadas.
Ainda um velho vem aparar as rijas sebes.
Ainda fantasmas choutam na cavalariça.
Ainda a feraz horta pare copiosa hortaliça.
Sim, adentro a mansão prosperou de donzelas a ilusão.
O velho senhor, que da úrica má-sina manquejava,
dava esmolas caprichosas a Santa Bárbara Escrava.
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