© DA. 10 de Outubro de 2020
161.
FALA O ESQUINADO
Coimbra, sábado, 10
de Outubro de 2020
(...)
V
Duas meninas lendo, doces, docemente, em o relvado.
Aves inumeradas ciciam ao ar matino.
Que a estas & àquelas seja manso o destino
– é só quanto quero, orador mas calado.
(...)
VIII
Talvez a velhice me refaça a infância.
Já vi isso alheiamente acontecer.
Prefiro só versejar isso, não ser isso já.
É deveras formoso o sábado corrente.
Nem uma nuvem esborrata a perfeição azul.
O sol regateia nada às nossas pessoas.
(...)
Assim é a mecânica mundial, pobrezita.
Mal se tem bem, bem se perde.
Alucina, fixar tal afronta nos olhos.
Lamentam a interdição de feiras.
Até as missas a poucas ovelhas dão penso.
Corrupto, viral futuro veio este presente ser.
Em certos aspectos, sou velho desde infante.
Mui cedo aprendi o pretérito dos verbos.
À restante gramática, faço dela livros sem venda.
(...)
XI
Presença aquém do corpo de meus fiéis-extintos.
Como resumir a duas datas quem foi calendário?
Ao passar a ribeirinha, pus o pé.
Estamos tão sós, que até sós é singular.
Fonte generosa de bic’aberta, água do povo.
Plátano robusto, à praceta dás sentinela.
Sanfrancisquemos os animais, puros, leais.
Sejamos a decência sobre duas pernas.
Molhei a meia.
(XII)
(Falo sem abrir a boca
Digo sem falar sequer
A vida é coisa pouca
Seja d’homem ou d’mulher.
Vejo sem olhos abrir
Escuto não estando cá
E patati-patatá
É um fartote de rir.)
(...)
XIV
Antigamente (agora, já não) perguntavam-me muito que habilitações-literárias eram as minhas. Antigamente, quem tive o quinto-ano-dos-liceus (ou equivalente da escola comercial-industrial) já não tinha acesso à cozinha-económica. Graças a Deus & à Rainha-Santa, agora atendem todo o falhado – por mais diplomado.
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