©
EGON SCHIELE
House
with Bell Tower (1912)
II
Ideia de serranias povoadas de realidades verdes
Por onde a mente perpassa qual brisa adequada
Serena alternativa ao frívolo & brutal humano
Bípede pacóvio gambozino de si mesmo órfão
Ideia de litorais abertos à respiração visual
Fechados porém à roubalheira bancário-financeira
Interditos porém aos sicários teístas
Proibidos no entanto aos miseráveis d’espírito
Ideia de ruas lavadas ao ar limpo da noite pura
Por onde ambular sem ida(de) nem retorno
Convocado o ambulante por franca vontade-própria
Em criativa liberdade que mal não traz ou faz aos outros
Ideia de casas dentro das que se é rei & cavalo-real
Onde as mulheres & os homens fazem de legos
Restritas ilhas de perene usufruto turístico
Interior turismo que fronteiras desconhece.
Imagem de praças fruídas em renovada idade
Ao lado de alguém afim-cúmplice ou a sós em segurança
Praças de qualquer país capaz de banir a pólvora
A pólvora, o punhal, a automática, a catapulta
Imagem de barcos dotados de memória itinerária
Naves tripuladas pelo desejo não-constritor
Faluas às luas mais propícias da infância
A infância a que a velhice narra fábulas perfumadas
Imagem de choupais ardendo sem fogo ao vento
Matas través as que o sono é benfazejo ao relento
À calma dos trilhos juntando-se a lentidão dos passos
Palácios ingentes da passarada mais eufórica & mais eufónica
Imagem de máquinas transparentes chamadas palavras
Palavras elas mesmas geradoras de imagens como
Berço, cadafalso, bancada, salsa
Ou então foz, feldspato, gato, gerânio.
Família mas não essa de meros consanguíneos
Antes família de claridades incorruptíveis
De pessoas, não de gente
De ir ver o mar, não de teimar na lixeira
Família de solidária presença mesmo a muitas milhas
Não de júris(im)prudente sobranceria deletéria
Não de pré-condenação mas de marsupial coabitação
Assim sim família, não clã, não seita, não quadrilha
Família para lá do sangue, contemporânea dos elementos
Família-fogo, família-ar, família-água, terra-família
Dessa em que os filhos se volvem irmãos
Irmãos já avoengamente sábios, lúcidos, aptos
Família não de desertores mas de cultivadores
De amados em prol de constante amor
De leais trazedores da palavra-justa
Única afinal que falta faz a quem dela é capaz.
Razão de valores arregimentados sem dogma
Daquele que colhe dos anteriores o suco primaz
Daquele que entende como sinónimos a rosa & Piazzolla
Dessa que corrige quando se trata de purificar
Razão que fecha os olhos físicos à intenção supurante
Habilitada pelo sol, licenciada pela noite
Compreensiva no sentido de abarcadora
Agressiva no sentido de açambarcadora
Razão que se não separa do animal mas o complementa
Própria para namorar aos domingos ante o coreto
Distinta, humilde, taful, singela
Mais de outiva que fonadora
Razão conhecedora do futuro, em que a morte
Sabedora do pretérito como pós-nada
Conciliadora de contrários orquestrais
Mãe de si mesma, insular & arquipelágica.
Força que resulta mais da querença do que da crença
Dessa que é ’inda mais forte do que a fraqueza pensa
Capaz da rosa & capaz do estrume à hora precisada dele
Vindicativa por ajuste mesmo que indirecto
Força que aprecia a delicadeza obstinadamente
Tornadora de tornados em zéfiros
Volvedora de furacões em favónios
Nunca amnésica, nunca indiferente, sempre força
Força que não agride mas responde
Dessa que bate mas não finge
Que prefere fazer-se primeira do que acólita
Saciando-se de vontade, não de volúpia
Força que à alheia recriminação volve farol em espelho
Apta a consertar, prontíssima a desconcertar
Aptidão que vem do honesto estudo
Prontidão que é sério engenho.
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