171.
BEM-VINDOS SEJAM OS COVIDados
PARA A MESA-DO-SENHOR
Coimbra, sexta-feira,
23 de Outubro de 2020
I
Fecha-se o mundo a si mesmo, de si mesmo algoz.
Geral fealdade de pensamento, ideia & acto.
É melhor, bem melhor, ficar em casa, de facto.
Morre-se em barda porque-sim, a banalidade é atroz.
Oh! Marcam greve para Novembro os enfermeiros!
Chico’spertos nesta altura: querem medalhas & dinheiros!
Bem-vindos sejam os COVIDados para a mesa-do-Senhor.
Palavra-sem-salvação.
(II)
(Quase lamento ter chegado a misantropo.
Mas só quase: deveras, nada me inculca filantropia.
Repugna-me ser humano a grosso, carneiro de modas.
Prefiro a gentileza, sabendo-a porém rara.
Não volto – ninguém volta – a moça idade.
A que tenho, tem-me – e usa-me em negação.
Assim seja, enfim, enquanto eu for: que,
de aonde for,
não volto
– ninguém volta.)
III
Revi dourada praia de meados dos 70/XX.
Penhascos ainda não aluíam sobre inocentes.
Era transparente o azul bordando a hora.
E trabalhar-o-bronze era matéria de estatuários corpos vivos.
À diáfana reverberação éramos totais em saciedade.
De casa se trazia a groselha, o capilé, o pão-com-ovo.
Ninguém semeava seringas pelo areal descalço.
E a pele fazia de vero portal ao cosmos franqueado.
[IV]
[Este meu diário bissexto
é quanto posso apor ao real.
Não é david-ante-golias.
É (d)o que babam os dias.]
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