22/12/2020

VinteVinte - 162 (XII)

© José Escada

(1934 - 1980)


XII

Menor redondilha 
Pela finitarde
Lembrança que arde
Cada minha Filha

Do céu monocolor
À terra adusta
Não voar bem custa
A quem é voador

Com lenço de linho
Asa despedida
Já vai desta vida
Quem viveu sozinho

’inda há quem morra 
Desaconchegado
Pobre & fanado
Sem quem o socorra

Tenho uma prima
Que à dor conhece
De que lembra & esquece
O baixo & o cima

Filha é de homem
Que já haver não há
Defunto que é já
Morto quase jovem

É delicodoce
Arrependimento
O nascer nos trouxe
A este momento

Já não vale a pena
E, ai!, nunca valeu
Amanhã cinema
Do ontem gineceu

Chegas atrasado
Às vezes à morte
Goza a tua sorte
Em tempo-contado

Zuca-libelinha
Homem-de-trabalho
Toda a carne é talho
Todo o ponto é linha

Ó adeus de linho
Só minha senhora
Que ao tempo doura
Belo & sozinho

Tem-te que não caias
Em o templo pagão
Onde as entradas são
Por elas não saias.






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