© DA. 19 de Janeiro de
2015
152.
ÚLTIMA O. DE CÉU
Coimbra, domingo, 27
de Setembro de 2020
I
O Inverno almejo, se por sorte um vier ainda.
À frigida calma, prefiro a frígida quietude.
Levantando-me cedo, aproveito a solidão sideral.
E pelas ruas recordo em frente outros dias frios.
Outros preferem suar as praias, causticar a pele.
Estão em seu acerto, que lhes não contesto.
Como eles fui, mas em menino, quando sabia menos.
Prefiro agora o rio mais revôlto, espumante & grosso.
Quando na cama, amornado, lá fora sei os gelos,
parece aconchegar-me a maternal matéria uterina.
Então é maravilha desejar a alva, dar-lhe um livro.
tomar bem quente o chá-com-leite, estar pronto.
Encontrar algures um sítio próspero, ler sem pressa,
ser então encontrado por versos em palaciana invernia,
comer almoçaradas robustas de feijão com porco,
voltar aos versos na tarde que breve precede a lua.
É todavia provável que nunca mais haja invernos.
O Novembro & o Dezembro próximos devem escaldar.
Derretem-se os pólos, o inferno é afinal terrestre.
A tragédia climática é o tal apocalipse de créus & incréus.
Mesmo assim, hei-de ter pinheiros & abetos enegrecendo a neve.
O Inverno escrito sempre dura mais, valha-me isso.
Arrecadada a provisão de lenha & víveres, o livro pode ser.
E o sono protegido há-de vingar em revertida infância.
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