V
Alberto entende-se com Filomela. Ambos na casa dos sessentas, escorreitos porém ambos ’inda. Divorciado ele há mais de duas décadas; ela, solteira como os peixes. Cada um em sua casa, visitam-se aos sábados para jantar & noite juntos. Aposentados: ele, das Finanças; ela, de educadora pré-escolar. Alberto usa olhos azuis, cabelo só lateral, tejadilho glabro & lustral. Filomela é de olhos castanho-pardal, cabeleira ruivo-raposa. Passeiam a manhã dominical, pós o que se apartam sem dor. Ele vai almoçar a casa da filha, ela vai à Figueira caminhar pela avenida face-atlântica, toda remoçada.
VI
Em uma tarde próspera de ampla harpa pluvial,
Santa Clara, mirada da Portagem, quase não era.
Santa enfim era – mas clara não, pois mal
se via o passo a dar sobre o que se dera.
Namorávamos já, eu & a vida a sós.
Por três notas de cem (era no tempo do e$cudo),
comprei na Bertrand As Ideias de Eça de Queirós,
de António José Saraiva, o mestre bigodudo.
Fui-me logo, claro, para A Brasileira.
Café-com-leite a ferver & uma fatia-de-Resende.
Chovia bem – e de tal forte maneira,
que a minha alegria pouca gente a compreende.
Não faz mal. Ninguém nasce p’ra ser compreendido.
Aos 18 anos apenas embora, já o houvera entendido.
(VII)
(Amanhã?
Dia-espelho, provavelmente.
Janela dando a um agro sem gente.
Aves no telhado das garagens.
De olhos fechados, tesouro de imagens.
Ontem?
Já com ele não contem.)
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