Por má fortuna, é em prosa que sonho, em verso não.
151.
Coimbra, sábado, 26 de
Setembro de 2020
I. QUEIXA-SE O MASCARILHA
Por má fortuna, é em prosa que sonho, em verso não.
Desmandada gramática me toma o onírico fraseado.
O som é nulo; a sílaba, elástica; o sentido, desnorteado.
Desperto ensalitrado, sem poema & em débil condição.
Pudera eu dormir oitavas de bravo decassílabo!
Sonhar em heróico, obrar (por assim dizer) riqueza
de rimado significado! É sonho de sonho elabo-
rado, artifício pueril meu, só redundante tristeza.
Estas linhas mesmas, que formalmente versos são,
não roubam lirismo à dita comum inspiração.
É que uso mascarilha, as lentes se me embaciam
– e pitosgo só quantas escrevo, nã’ saem já tal me saíam.
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