14/12/2020

VinteVinte - 154 (V-VII)

 

© DA. 

Gato à Janela

Coimbra, Rua Nicolau Chanterenne, às 15h24m de Quinta-Feira,

9 de Abril de 2015



154.

 

BREVES LAPSOS

 

Coimbra, quinta-feira, 1 de Outubro de 2020

 

        

(V) 

(Por alguma razão rimam, em a nossa pátria-mátria-Língua, 
Banalidade & Felicidade. 
A uma como a outra, em resistir tenho persistido, 
se não ’inda perecido.) 

VI 

Aquele homem pelo nevão teimando caminho de regresso. 
O mundo que ele é adentro-si, só no mundo nevado. 
Até da apostasia mesma se sente egresso. 
Nada do que esqueceu V. será aqui lembrado. 

VII 

Era eu ’inda menino – e já o destino 
abria falência pela então numerosa mortandade infantil. 
Famílias abastadas como as demais pobres do redil 
perdiam crianças por mote da raiva ilegível de Deus, 
sondáveis afinal os desígnios ferozes Seus. 

O Mota Rico adoptou uma das crias da Cuca, que era Augusta. 
A menina pôde então ascender a pessoa, até a cidadã. 
A miséria a não já escurecia ou queimava, adusta. 
E para ela os dias voltaram a ter manhã. 
Isto que digo tem foros de ciência vera, cabal & louçã. 

Já só por via escrita posso deslindar algum contacto. 
Por meu lado, todavia, aceito em perfeição a própria insularidade. 
Pulsão-de-morte me não adorna ou encorna, isso é facto. 
Gosto até de viver, quando cópia de chuva me torna singularidade. 
(E de laranjeiras perfumados alguns quintais p’la Cidade.) 

Conhecendo ora vou, por d’idade apanágio, quão poucas 
as pessoas, boas e/ou loucas, que derredor me restem, 
falantes comigo a mim, que por elas delas sou. Prestem 
essas só, que outras me não sobram, soçobram só. Moucas, 
às demais não quero, se forniquem elas, de mim algo sem. 

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Canzoada Assaltante