VII
O crepúsculo é hoje felizmente outoniço.
Saúdo o cotejo a tempos agora velhos.
Certos tons áureo-violetas, âmbar, vermelhos.
Todo um opúsculo me sugere isso.
Vim ver, vejo, retornarei vendo.
É mais pessoal o próximo, a este tom.
Custa mais ser vil, custa nada ser bom.
Eu mesmo outoneço no mero ir escrevivendo.
Nada sei, pouco hei, muito m’interessa.
Anoitece meio-mundo à escala global.
Interessa-me a parte que diz Portugal.
A manhã é manhã, por mais q’ora anoiteça.
Um casal reencontra-se ao cabo do dia.
– O dia teu, como foi? – Foi bom, e o teu?
– Olha, vi a Maria. – E eu, o Eliseu.
E vão comprar coisitas à mercearia.
Já torra de último anil a torre d’igreja.
Cinérea s’anuncia a inumação do dia.
Gervásio vem com sede, pede uma fria
copanázia espumosa, bem-dita cerveja.
Gabriel está em vinho, já comeu a sandes.
Eu versejo o Outono, mas também já libei.
Proveito ele venha, da fama me não livrei,
que zurrem os asnos d’orelhas mui grandes.
Uma vez na (minha) vida, há doçura outonal.
É o tempo que enfeita a preceito Portugal.
Estes versos vou fazendo de casa a retorno.
Quem não gostar deles, não vale ponta nem corno.
VIII
O tempo-de-escreviver é agora, não outro.
Não me cabe apurar como pode isto ser lido.
Não me cabe mandar pensar, emanar directrizes.
Isto é o que faço no tempo que se desfaz.
É de dar em doidos, se nos pensarmos todos cosmocêntricos.
É preciso pôr K. (de Kafka) a calmantes.
Vive-se & morre-se agora como se morrivivia dantes.
Deixai lá a pedra d’água fazer aros concêntricos.
(IX)
(Os nossos olhos
Mal direccionados
Topam mais alhos
Que bacalhau aos bocados.)
X
Serviu – em abstracção – a sua Coimbra.
Não se deu a famas, louros, palanquins.
Por natura, ninguém hoje dele se lembra.
Antes arroz-de-tomate & dourados jaquins.
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