98.
A. TREMEM COMO A.
Coimbra, sábado, 11 de
Julho de 2020
I
A
infância era de verdades melhores do que estas que hoje todos amargamos. Havia nas
coisas mundiais uma proporção incapaz de compreender, primeiro, e de aceitar,
depois, a assimetria deste presente sem grande futuro. E no entanto o remédio é
deixar andar, deixar morrer, perdão, correr.
II
Alegria
simples & maravilhosa: vem aí trovoada. Saí de casa já depois das seis da
tarde. Em vez da ardência solar, esperava-me a grande massa negra da nublação
eléctrica. Vento quente, vento ad hominem. Aves atordoadas. Íntima,
furiosa alegria minha.
Desde
menino que amo os desvarios do tempo. O senhor pai da minha Mãe temia as
trovoadas. Tão forte em tudo – e uma descarga electroceleste aterrorizava-o à
impotência. Eu amo este fulgor, esta majestade.
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