01/11/2020

VinteVinte - 98

98.

 

A.  TREMEM COMO A.

 

Coimbra, sábado, 11 de Julho de 2020

 

I

 

A infância era de verdades melhores do que estas que hoje todos amargamos. Havia nas coisas mundiais uma proporção incapaz de compreender, primeiro, e de aceitar, depois, a assimetria deste presente sem grande futuro. E no entanto o remédio é deixar andar, deixar morrer, perdão, correr.

 

II

 

Alegria simples & maravilhosa: vem aí trovoada. Saí de casa já depois das seis da tarde. Em vez da ardência solar, esperava-me a grande massa negra da nublação eléctrica. Vento quente, vento ad hominem. Aves atordoadas. Íntima, furiosa alegria minha.

Desde menino que amo os desvarios do tempo. O senhor pai da minha Mãe temia as trovoadas. Tão forte em tudo – e uma descarga electroceleste aterrorizava-o à impotência. Eu amo este fulgor, esta majestade.

        As andorinhas tremem como apogiaturas.

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Canzoada Assaltante