09/11/2020

VinteVinte - 113


António Maria Lisboa
(1928 - 1953)


113.

 

ANTONIANDO

 

 Coimbra, sábado, 1 de Agosto de 2020

 

    

    Escrevo ao correr da pena a figura serena de Rómulo de Carvalho / António Gedeão. Lavada mente, a dele. Logrou sobre-ser, extinto em cinza o corpo que foi & se foi. A escrita dele perdura, inofensivando, por enquanto, a exacção do Tempo. 
    Segue-se-lhe outro António (Maria Lisboa). Precocemente exaurido, largamente ignorado, mormente esquecido. Corresponde bem, por animal & por extinção, a anjo. Releio o pouco que deixou, de quando em vez. Como Cristovam Pavia, Cesário Verde & Sebastião da Gama, mal teve tempo de ver se chovia ou nem por isso. 
    Todos os nomes acima arrolados são de basilar necessidade quanto à leitura fiel de Portugal. Mais agora, que o instante é de ingentes indiferença, ignorância & improbabilidade. 
    E outro António: Aleixo – de equivalente importância aos referidos. 

    II 

    Quem-Sou-Donde-Venho-Para-Onde-Vou 
    continua a ser trindade interrogativa 
    da pessoa que, cabeça tendo, a usou 
    para saber por que está viva. 

    III 

    Escrevo depois uma carta sensata 
    que os versos contrariam, retrasados. 
    Tiro um trecho de rio & de mata,
    derredor campos todos cultivados.


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