© Nicholas
A. Tonelli
110.
RECADO PARA OUTRO DEPOIS
Coimbra, quarta-feira,
29 de Julho de 2020
I
Sabemos pouco, interessamo-nos pouco.
Traços monumentam o pretérito.
O futuro sempre foi medonho razoavelmente.
Não há mensagens hoje, senhora.
Muros acabam resultando gentis guardas.
Sabe-se fazê-lo, mas falar deixa de apetecer.
Cães ladrando na noite não acordam galos.
Não, ninguém telefonou, cavalheiro.
Colossos de ossos ao sol: as fábricas ruídas.
Belo candeeiro de chão-alto já de si velho.
Frases de erva vadia que a chuva fez dia.
Menino, o menino é forçoso devir adulto.
Recado para outro depois: Lava Tudo.
Nascer é deveras a mancha do não-retorno.
O lápis fiel marceneira-nos as horas.
As suas também, menina, em querendo.
A cadela ama-amamenta-mente as crias.
Depois de certa hora, a incerteza duradoura.
Não, nem tudo um dia vem (a saber-se).
A sua verdade importa-nos zero, velhinha.
Sabemos pouco, importamo-nos ainda menos.
II
Outros são mesmos-em-si, de nós nada querem.
Respeita-nos sermos só um sem Vós nem eles.
III
Pó em pedra no caminho antigo.
Desce-se beira-bosque por aqui.
O rio é em baixo a recompensa.
Escolhemos bem a manhã – ou ela-nos.
Cedo é da natura das aves pré-solares.
Elementos áureos verdejam já oblíquos.
O longe é visível, não quimera.
Outra pessoa dir-te-ia isto? Não diria.
IV
Guarda muito dentro a serenidade estival da noite.
É o que faz bem, é o que lhe faz bem também.
Uma roseira respira na atenção – e freme.
É bondade, uma vez na vida, estar vivo.
Se lhe contam, escuta; se lhe não falam, ouve.
Não é o centro de todas as coisas – só da sua.
Brancura de casas sem carteiro possível.
Céu visto do céu, diz adeus à terra, leva as chaves,
Traços monumentam o pretérito.
O futuro sempre foi medonho razoavelmente.
Não há mensagens hoje, senhora.
Muros acabam resultando gentis guardas.
Sabe-se fazê-lo, mas falar deixa de apetecer.
Cães ladrando na noite não acordam galos.
Não, ninguém telefonou, cavalheiro.
Colossos de ossos ao sol: as fábricas ruídas.
Belo candeeiro de chão-alto já de si velho.
Frases de erva vadia que a chuva fez dia.
Menino, o menino é forçoso devir adulto.
Recado para outro depois: Lava Tudo.
Nascer é deveras a mancha do não-retorno.
O lápis fiel marceneira-nos as horas.
As suas também, menina, em querendo.
A cadela ama-amamenta-mente as crias.
Depois de certa hora, a incerteza duradoura.
Não, nem tudo um dia vem (a saber-se).
A sua verdade importa-nos zero, velhinha.
Sabemos pouco, importamo-nos ainda menos.
II
Outros são mesmos-em-si, de nós nada querem.
Respeita-nos sermos só um sem Vós nem eles.
III
Pó em pedra no caminho antigo.
Desce-se beira-bosque por aqui.
O rio é em baixo a recompensa.
Escolhemos bem a manhã – ou ela-nos.
Cedo é da natura das aves pré-solares.
Elementos áureos verdejam já oblíquos.
O longe é visível, não quimera.
Outra pessoa dir-te-ia isto? Não diria.
IV
Guarda muito dentro a serenidade estival da noite.
É o que faz bem, é o que lhe faz bem também.
Uma roseira respira na atenção – e freme.
É bondade, uma vez na vida, estar vivo.
Se lhe contam, escuta; se lhe não falam, ouve.
Não é o centro de todas as coisas – só da sua.
Brancura de casas sem carteiro possível.
Céu visto do céu, diz adeus à terra, leva as chaves,
finge-te são-pedro.
V
Um destes ventos consumará a noite exacta.
O tempo dar-se-á a comer o pão da concórdia.
V
Um destes ventos consumará a noite exacta.
O tempo dar-se-á a comer o pão da concórdia.
Toda a lembrança será fiel invenção barata.
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