06/11/2020

VinteVinte - 107 (quase tudo)




107.

 

CASO FOSSES

 

Coimbra, terça-feira, 21 de Julho de 2020 (I-II)

Coimbra, quarta-feira, 22 de Julho de 2020 (III-VIII))

 

 

 

I

 

Duradoura voz vibra dourada a própria lira.

Interessa tão-só o universal no próximo.

Ainda o mais pequeno tenta saltar o máximo.

Alcança quem se não demora em espera.

 

II

 

Rudh Alexe foi um dos incorporados em 1915. Desapareceu na voragem. A lápide & a campa que lhe dedicaram na aldeia são simbólicas, o corpo está espalhado pelo Marne, já nem é carne.

Na mesma guerra morreu o cabo André Georges Poulet, do 294e. R.I. Para este francês tenho data: 25 de Maio de 1916 (quinta-feira).

 

[III]                 

[Marguerite Yourcenar, in Um Homem Obscuro (segunda das três narrativas de Como a Água que Corre):

“Ontem, hoje e amanhã formavam um só e longo dia febril, que também abarcava a noite.” ]

 

IV

 

– A vida – dizias.

– Vale mais lê-la do que vivê-la – dir-to-ia eu, caso fosses. Ou viesses.

 

V

 

É uma manhã toda luminosa, esta de Coimbra, possível é também estar vivo na rua, nove & pouco são elas da manhã, resolvi já porém tudo, menos uma coisa, o que me trouxe à rua. Escrevo no sopé da Sá da Bandeira, à face do Mercado a que o senhor D. Pedro V, sem que lho houvessem pedido, deu o nome. Recordo ter por aqui escrito já não poucas vezes. Uma dessas vozes, perdão, vezes, foi de regresso da, minha também, muy bela Figueira da Foz. Lembro-me a fresca calidez dessa finitarde, a doçura esmaecente das cores, a brisa no arvoredo que alpina daqui ’té a Praça da República à vista da formosa Sereia. Agora, como vêdes, não escrevo – viv’anoto. Estou, na rua, em casa. Em-Casa, antes. Vagar, devagar, ócio, negócio, andando, desandando. Sou um órfão lúcido: a Mãe que resta, Coimbra se chama.

É toda luminosa a manhã etc.


 

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Canzoada Assaltante