107.
CASO FOSSES
Coimbra, terça-feira,
21 de Julho de 2020 (I-II)
Coimbra, quarta-feira,
22 de Julho de 2020 (III-VIII))
I
Duradoura
voz vibra dourada a própria lira.
Interessa
tão-só o universal no próximo.
Ainda
o mais pequeno tenta saltar o máximo.
Alcança
quem se não demora em espera.
II
Rudh
Alexe foi um dos incorporados em 1915. Desapareceu na voragem. A lápide & a
campa que lhe dedicaram na aldeia são simbólicas, o corpo está espalhado pelo
Marne, já nem é carne.
Na
mesma guerra morreu o cabo André Georges Poulet, do 294e. R.I. Para este
francês tenho data: 25 de Maio de 1916 (quinta-feira).
[III]
[Marguerite Yourcenar, in Um Homem Obscuro (segunda
das três narrativas de Como a Água que Corre):
“Ontem, hoje e amanhã formavam um só e longo dia
febril, que também abarcava a noite.”
]
IV
– A vida – dizias.
– Vale mais lê-la do que vivê-la – dir-to-ia eu, caso
fosses. Ou viesses.
V
É uma manhã toda luminosa, esta de Coimbra, possível é também
estar vivo na rua, nove & pouco são elas da manhã, resolvi já porém tudo,
menos uma coisa, o que me trouxe à rua. Escrevo no sopé da Sá da Bandeira, à
face do Mercado a que o senhor D. Pedro V, sem que lho houvessem pedido, deu o
nome. Recordo ter por aqui escrito já não poucas vezes. Uma dessas vozes, perdão,
vezes, foi de regresso da, minha também, muy bela Figueira da Foz. Lembro-me a
fresca calidez dessa finitarde, a doçura esmaecente das cores, a brisa no
arvoredo que alpina daqui ’té a Praça da República à vista da formosa Sereia. Agora,
como vêdes, não escrevo – viv’anoto. Estou, na rua, em casa. Em-Casa, antes. Vagar,
devagar, ócio, negócio, andando, desandando. Sou um órfão lúcido: a Mãe que
resta, Coimbra se chama.
É toda luminosa a manhã etc.
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