10/11/2020

VinteVinte - 114 (mais linhas do VinteDezanove)

 




30.6.2019 
Domingo 


Almácega cega d’alma só, 
derivo ao império do impropério. 
Não será hoje q’eu me leve a sério, 
não ontem-cinza, amanhã-pó. 


Deste instante não fica senão verso, 
a que breve dou pertença a que pertenço. 
Há pouco, não pensei – mas ’inda penso 
ser mundo com gente que não converso. 

Vi o Jorge Rendilho, seis minutos 
conversámos a sós como cãezitos. 
Éramos quatro olhos glauc’aflitos, 
fomos delicados, veros, feros & brutos. 

Saí do autocarro, não chuviscava, 
tudo era nada, só pastelarias, 
eu vinha para casa (Deus ma dava), 
cobiçoso de cruas iguarias. 

Domingo é a praia dos mais incréus, 
amanhã a novidade não promete, 
o diabo-a-4-pintado-a-7, 
pobre-diabo desavindo com deus. 

Dei de mão-não-beijada à lit’ratura 
um telefonopoema, tive sorte: 
antes o dizer-bem que andar no corte, 
depois será que for, se for altura. 


Aparecem-me em forma de pombas as senhoras dos livros de Eça de Queiroz. Atiro-lhes arroz & pão que soberbamente bicam, seguras de seu património romanesco. Já eu, principesco, frúo-as em certo êxtase de gratidão que (d)escrever quase nem posso – mas posso. E se leitura peço, meço o pedido pelo muito que li. Agora mesmo, nova pomba: 

ali, 
id est, 
aqui.

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Canzoada Assaltante