30.6.2019
Domingo
Almácega cega d’alma só,
derivo ao império do impropério.
Não será hoje q’eu me leve a sério,
não ontem-cinza, amanhã-pó.
*
Deste instante não fica senão verso,
a que breve dou pertença a que pertenço.
Há pouco, não pensei – mas ’inda penso
ser mundo com gente que não converso.
Vi o Jorge Rendilho, seis minutos
conversámos a sós como cãezitos.
Éramos quatro olhos glauc’aflitos,
fomos delicados, veros, feros & brutos.
Saí do autocarro, não chuviscava,
tudo era nada, só pastelarias,
eu vinha para casa (Deus ma dava),
cobiçoso de cruas iguarias.
Domingo é a praia dos mais incréus,
amanhã a novidade não promete,
o diabo-a-4-pintado-a-7,
pobre-diabo desavindo com deus.
Dei de mão-não-beijada à lit’ratura
um telefonopoema, tive sorte:
antes o dizer-bem que andar no corte,
depois será que for, se for altura.
*
Aparecem-me em forma de pombas as senhoras dos livros de Eça de Queiroz. Atiro-lhes arroz & pão que soberbamente bicam, seguras de seu património romanesco. Já eu, principesco, frúo-as em certo êxtase de gratidão que (d)escrever quase nem posso – mas posso. E se leitura peço, meço o pedido pelo muito que li. Agora mesmo, nova pomba:
ali,
id est,
aqui.
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